segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Vá brincar lá fora!!!!

Lá fora há muito que aprender, nossa escola é assim... 

muito espaço... muito!!!

Imagem da Net
Revista Pátio 

Lá fora há muito que aprender

Beatriz Fedrizzi

No meio natural, a criança aprende melhor sobre os recursos naturais e a importância da preservação, desenvolve mecanismos de percepção e torna-se mais atenta aos processos de ensino-aprendizagem.
Após décadas de intenso desenvolvimento industrial, tecnológico e científico, o mundo volta novamente a sua atenção — e preocupação — para os recursos naturais. A inter-relação do homem com a natureza apresenta grande importância em sua vida, trazendo-lhe inúmeros benefícios, tanto emocionais quanto funcionais. Em se tratando de crianças, o contato com a vegetação tem ainda maior impacto, de modo que a interação com a natureza influencia no desenvolvimento e também auxilia no aprendizado, atuando em duas frentes. Ou seja, quando está em um meio natural, a criança não só aprende melhor sobre os recursos naturais e a importância da preservação, como também desenvolve mecanismos de percepção e torna-se mais atenta aos processos de ensino-aprendizagem.

Segundo Elali (2008), é inegável a importância do pátio escolar como local de atividade e interação social. No entanto, na maioria das escolas brasileiras, tais espaços ainda são compreendidos apenas como um local onde as crianças ficam quando não estão desenvolvendo atividades em sala de aula, para as quais, de modo geral, não são elaborados projetos específicos (Fedrizzi, 2002).

Nos últimos anos, a urbanização tem diminuído as áreas onde as crianças podem brincar livremente. Além disso, elas passam mais tempo em instituições e, em muitos casos, o pátio escolar é o único espaço aberto seguro para desenvolver diferentes tipos de atividades. Segundo Nelson (2012), houve mudanças negativas na vida de nossas crianças. Nesse sentido, é preciso protegê-las da falta de exercício, do excesso de tempo dedicado a equipamentos eletrônicos, da percepção dos espaços abertos como perigosos para brincar, do isolamento e do medo da natureza, da falta de conexão com o meio ambiente, da falta de conhecimento sobre a educação pré-escolar e do uso abusivo de medicamentos para modificar o comportamento infantil. Segundo o autor, todos esses problemas podem ser contornados com o projeto e o uso adequado de pátios escolares pelas crianças.

Ecologia é um assunto bastante conhecido nas escolas brasileiras. Porém, o que as crianças normalmente encontram fora das salas de aula é um ambiente desolado. A necessidade de áreas verdes nas grandes cidades é tão grande que não podemos desperdiçar nenhum espaço sequer sem colocar vegetação. O tipo de vida que levamos contribui para o estresse e, consequentemente, para a fadiga mental. Um pátio escolar bem-planejado, com vegetação, tem a capacidade de diminuir tais problemas, oferecendo uma melhor qualidade de vida. Pesquisas têm demonstrado que a capacidade de concentração das crianças e a sua coordenação motora melhoram quando elas têm contato com a natureza (Grahn, 1994).

Nossos educadores recebem formação sobre essa etapa do desenvolvimento humano, mas dificilmente são envolvidos no processo de projetar ou replanejar os espaços físicos das escolas. A falta de informação nessa área tem um impacto direto sobre a falta de qualidade dos lugares de aprendizado e de usos diário das crianças (Sanoff, 1995). Portanto, o objetivo deste artigo é colaborar para a formação dos profissionais da educação infantil a respeito da importância do espaço físico no aprendizado das crianças, ajudando-os a se tornarem mais ativos no processo de projeção e uso desses espaços.

A primeira infância
Aprendemos bastante sobre os cuidados pré-natais. Todavia, após nove meses habitando o útero, quais seriam os cuidados da sociedade em relação ao novo indivíduo para que se desenvolva adequadamente? Sabemos que, para ter um bom desenvolvimento, as crianças precisam de cuidados parentais, boa formação escolar e estimulantes atividades sociais. Elas se beneficiam do tempo despendido nos espaços abertos, sobretudo com elementos naturais, então simplesmente devemos aumentar a quantidade e a qualidade dos espaços externos.

Nos primeiros sete anos de vida, o indivíduo passa por um intenso processo de desenvolvimento (físico, afetivo, cognitivo e social), durante o qual são construídas as bases de sua personalidade e do aprendizado futuro. Pesquisas que envolvem os lugares da infância valorizados na memória de adultos apontam o pátio escolar como um dos locais favoritos (Elali, 2008), fortalecendo sua importância afetiva e simbólica, bem como a necessidade de elaboração de espaços que estimulem o desenvolvimento infantil.

A importância da vegetação
O ambiente escolar tem considerável importância no desenvolvimento da criança: “Uma vez que o indivíduo começa sua vida escolar, a sua vida muda consideravelmente. Uma grande parte do seu dia é gasto na escola, muito mais do que nas vizinhanças” (Proshansky e Fabian, 1987).

O interesse pelos pátios escolares tem crescido mundialmente, o que pode estar relacionado a dois fatores. Primeiro, o espaço disponível para brincar vem diminuindo devido ao aumento do tráfego e da criminalidade, e as crianças estão mais atarefadas com atividades que as mantêm em instituições. Segundo, existe o interesse em favorecer o conhecimento ecológico por meio da interação das crianças com o espaço aberto.

Considera-se que a natureza e a vegetação no pátio escolar contribuem positivamente para a saúde e o desenvolvimento das crianças. Kaplan e Kaplan (1989), em suas pesquisas, enfatizam que o ambiente natural é influente e que as experiências com ele foram profundamente restauradoras com relação à fadiga mental e ao estresse.

Outros estudos identificaram que os ambientes naturais são eficientes em trazer à tona mudanças no estado emocional entre indivíduos estressados e não estressados. Tais descobertas, combinadas com a pesquisa da ciência cognitiva, que sugere a hipótese plausível de que a exposição a ambientes naturais aumenta a criatividade e a organização funcional cognitiva em geral (Ulrich, 1993; Gump, 1978), indicam que a qualidade de vida da criança é seriamente afetada pela qualidade do ambiente onde ela vive.

Cultivando salas de aula sem paredes
Pesquisando sobre pátios para pré-escolas, deparei-me com o programa The Outdoor Classroom, desenvolvido por Eric Nelson (2012). Apresentarei algumas de suas indicações, a começar pela indagação: como podemos redesenhar os pátios das pré-escolas brasileiras? Para isso, é preciso observar as seguintes premissas:
  1. O processo de educar as crianças da educação infantil abrange muito mais do que prepará-las para o ensino fundamental ou distraí-las enquanto seus pais trabalham. Devem-se respeitar os processos da infância e as particularidades de cada criança, ajudando-as a alcançar seu potencial.
  2. Programas para crianças devem ter visão e valores, fundamentando-se na premissa de que a sociedade deve procurar atender um bem maior.
  3. O processo é mais importante do que o conteúdo: as crianças aprendem tanto a partir do conteúdo quanto por parte dos professores e dos ambientes onde estão inseridas.
     
Como princípios, o programa The Outdoor Classroom recomenda:
  1. As crianças beneficiam-se quando permanecem no espaço aberto.
  2. O fato de haver pátios pequenos não impede que várias atividades de sala de aula sejam feitas na rua.
  3. O desenvolvimento das crianças é otimizado quando elas passam grande parte do tempo participando de atividades que elas escolheram, sob a supervisão dos professores.
  4. As crianças precisam manter contato com a natureza.

Devem funcionar como elementos-chave as seguintes considerações:
  1. Professores e diretores devem estar interessados e comprometidos com o projeto de uso do pátio.
  2. Professores e diretores devem ter conhecimento do projeto para fazê-lo acontecer.
  3. Alguns equipamentos são necessários, como brinquedos, mesas, cadeiras, etc., bem como um depósito para guardá-los.
  4. Pais e administradores escolares devem viabilizar a iniciativa e dar-lhe suporte.
     
Algumas outras características gerais a serem citadas incluem:
  1. Deve-se oportunizar às crianças que passem bastante tempo no pátio, sendo fácil e seguro circular entre o prédio e o espaço aberto.
  2. Deve-se garantir que haja espaço suficiente para todas as atividades, inclusive para que as crianças possam correr.
  3. Deve-se disponibilizar um leque amplo de atividades, incluindo aquelas que tradicionalmente acontecem dentro do prédio, mesmo quando o pátio não foi projetado.
  4. Deve-se incentivar a criação de atividades pelas crianças; os professores, por sua vez, alternam-se entre dar suporte a elas e deixá-las agir de modo independente novamente.
  5. Devem-se programar os objetivos que as crianças têm de atingir.
  6. Deve-se considerar que o programa das atividades externas apoia continuamente o aprendizado, já que as crianças estão aprendendo o tempo todo.
  7. Deve-se considerar que o currículo das atividades externas ocupa grande parte do programa total e modifica-se conforme mudam as necessidades e os interesses das crianças.
  8. Deve-se organizar o espaço para diferentes atividades, de modo que aconteçam em harmonia com as atividades dos espaços vizinhos.
  9. Deve-se ajudar na criação de atividades específicas, pois, assim, as crianças aprenderão sucessivamente através das suas atividades. É interessante escalonar as atividades e fazer colocações provocativas, estimulando o desenvolvimento.
     
Além dessas considerações, ao criar um programa, é preciso pensar em modificações a curto, médio e longo prazo. Para isso, é imprescindível criar um plano de modificação do pátio que responda às seguintes perguntas:
  1. Onde estamos?
  2. Para onde queremos ir?
  3. Quais devem ser nossas primeiras modificações?
  4. Como podemos atingi-las?
  5. Como realmente se faz isso?
  6. Como saberemos que tivemos sucesso?
  7. Que tal propor alguns desafios?
  8. Como reconhecer o trabalho de todos que contribuirão com o processo de modificação?

Ao projetar o espaço, é preciso considerar os seguintes fatores:
  1. As áreas de brincar devem estar próximas às salas de aula (de preferência, conectadas).
  2. As áreas de brincar devem ser espaçosas e comportar confortavelmente as crianças.
  3. A área mais aberta deve ficar no centro e ser grande o suficiente para que as crianças consigam correr livremente; os outros espaços devem circundar essa área central.
  4. As áreas devem ser separadas umas das outras para evitar conflitos.
  5. Um espaço aberto saudável para as crianças é aquele que oferece atividades que as atendam de forma completa.
  6. O local destinado a guardar os equipamentos usados no pátio deve ser amplo e de fácil manejo.
  7. Os elementos da natureza devem predominar no pátio, em vez de cimento, asfalto e outros materiais de construção.
  8. O pátio deve oferecer desafios, mas ser seguro.
  9. A oferta de pátio bem-planejado não é suficiente; é preciso adotar uma filosofia que fundamente todo o projeto.
Por fim, alguns inconvenientes devem ser evitados:
  1. Falta de sombra, principalmente na caixa de areia.
  2. Excesso de sombra no inverno.
  3. Falta de vegetação na altura das crianças (usar arbustos baixos e médios).
  4. Excesso de pavimentação.
  5. Diminuição da quantidade de grama e/ou de areia devido à existência de caminhos pavimentados muito largos.
  6. Redução da área de grama, impedindo-se a prática de qualquer atividade.
  7. Falta de espaço para as crianças correrem.
  8. Falta de depósito para guardar os equipamentos.
  9. Falta de drenagem.

As áreas externas devem ocupar um grande espaço no aprendizado das crianças. Precisamos olhar para fora, pois há muito a ser feito. As crianças certamente agradecerão!
Crédito da imagem:
Foto: ©iStockphoto.com/Photolyric

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Os cuidados com os bebês

Emmi Pikler e orientações para os cuidados com os bebês

Fora do ambiente da família, é especialmente perigoso se a atividade de trocar e vestir o bebê não é realizada desta maneira alegre. Numa creche ou instituição, o bebê é cuidado não por sua mãe, pai ou avó que o olham com amoroso orgulho, mas por outra pessoa: uma profissional, educadora, cuidadora. Uma cuidadora tem de cuidar de vários bebês – um atrás do outro; e não importa o quanto ela ame crianças, uma vez que foi por isso que ela escolheu essa carreira, ela não pode olhar para cada bebê com o amor orgulhoso, entusiasmante e adorador de uma mãe. E eu quero dizer mais: isso sequer pode ser esperado dela. Não seria realista. E, infelizmente, na realidade seus movimentos muito facilmente se tornam mecânicos, rápidos, e rotineiros. A ocasião de estar junto frequentemente acontece sem palavras, de maneira impessoal. Em uma ‘boa situação’, a criança não protesta, mas aguenta passiva, e talvez faça esse estar juntos um momento difícil por enrijecer seus músculos. E, portanto, não é um prazer para nenhuma das partes: nem para o bebê, nem para o adulto.
Como isto pode ser ajudado? Deve se esperar da cuidadora que ela ame cada criança que ela tem que cuidar como uma mãe? Mas isso é impossível. Sim, isso é impossível. Amor não pode ser prescrito, especialmente afeições maternas. Mas pode ser ajudado. Existem algumas regras pequenas e muito simples, e, se a cuidadora as seguir, a atmosfera de estar juntos se tornará completamente diferente, e será cada vez mais agradável tanto para o bebê quando para o adulto estar juntos durante os cuidados. Eventualmente, com tempo, o adulto não terá que pensar sobre regras e segui-las. Se tornará natural que ele se aproxime do bebê como um parceiro, com interesse pessoal e tato, e sua higiene, limpeza, despir, vestir e trocar fraldas será em última análise um encontro de dois seres humanos. Um encontro real, quando a criança não é apenas o objeto de tudo aquilo que acontece com ela, mas uma participante também. Listadas abaixo estão algumas regras que têm sido formadas, refinadas e trabalhadas baseadas na experiência de algumas décadas do Instituto Pikler em Budapeste, com base nos ensinamentos da pediatra húngara Emmi Pikler. No Instituto, centenas de crianças abandonadas e órfãs foram criadas para se tornarem jovens adultos com personalidades saudáveis, comprovado por estudos de acompanhamento, apesar do fato de que tiveram que lidar com a falta do acolhimento do amor familiar em sua idade mais vulnerável.
  • Nunca pegue uma criança inesperadamente em seus braços de forma que seja surpreendente para ela. Chame-a, procure por seu olhar. Se ela está adormecida e ainda assim você precisa pegá-la, chame-a, gentilmente acaricie sua face, e espere até que ela acorde espreguiçando. Uma vez que o contato visual tenha sido estabelecido, diga a ela que você irá pegá-la. Sim, mesmo com um bebê de apenas alguns dias ou semanas de idade. Então, somente depois, estenda seus braços até ela.
  • Os movimentos nunca devem ser excessivamente precipitados. Permita tempo suficiente ao bebê com seus gestos para que ele se prepare para o que vai acontecer. Por exemplo, toque-o suavemente, posicione suas mãos gentilmente sob sua cabeça e corpo, e então levante-o alguns instantes depois.
  • Ajude-o também com palavras para prepará-lo para o que vai acontecer. Isso também significa que nós nunca ficamos em silêncio juntos, mas falamos com o bebê; mantemos uma conversa. Converse com ele sobre o que será feito, que tipo de roupas serão separadas para serem colocadas nele. Sobre que parte do seu corpo será tocada. Fale com ele, informe-o, não apenas enquanto a ação já está sendo feita, mas também antes dela começar: “Eu irei puxar o seu braço por cima da manga do casaco. Sim, este seu braço. Obrigada”. Acredite se quiser, o milagre irá acontecer com a idade de apenas alguns meses. Sorrindo, o bebê irá, embora incerto, levantar seu braço quando a mão do adulto tentar alcançá-lo. E que prazer é para o adulto, e que prazer para o bebê!
  • O bebê precisa ser ouvido quando o adulto está cuidando dele. Ele precisa ser respondido. Em um relacionamento criado dessa forma o conteúdo da conversa será cada vez mais rico, e o bebê conseguirá respostas às suas manifestações. A cuidadora pode dizer, por exemplo, “Eu vejo que você gosta desse casaco bem quentinho. Sim, estou vendo, você está com sono agora. Você acabou de bocejar. Eu irei te colocar na sua cama em breve. Aqui estamos, eu irei te colocar na sua cama. E agora estou te cobrindo. Bons sonhos!” Um bebê de apenas alguns meses já absorve as palavras direcionadas a ele. E ele ajuda o adulto cuidador a ficar com ele com sua atenção – seus pensamentos, seu interesse – ainda que seja a terceira ou oitava criança cujas fraldas ele esteja trocando naquela manhã.
Estas são regras simples; não há nada de surpreendente nelas. E ainda assim vale a pena observarmo-nos para ver se é realmente assim que estamos agindo, e se nós usamos as oportunidades de estar juntos com a criança para criar um diálogo mais significativo com gestos, olhares, e fala, no qual o bebê também pode sentir que ele é um verdadeiro parceiro e um participante ativo, e que faz a hora de estar juntos mais alegre para o adulto nos momentos de cuidado repetidos durante o dia.

Publicado por Mariana em Desenvolvimento infantil
Segunda e última parte do artigo “Estar com os bebês”  (original no site Pikler/Lóczy Fund USA), escrito por Anna Tardos, do Instituto Pikler em Budapeste.
Adaptações: Heloisa Pedroza Lima
Estar com bebês – Anna Tardos
Tradução: Mariana Discacciati
Revisão da tradução:Raquel Borges
Fonte: http://www.educacaodecriancas.com.br/desenvolvimento-infantil/emmi-pikler-orientacoes-cuidados-com-bebes-parte-2

A importância da interação com os bebês.

Emmi Pikler e orientações para os 

cuidados com os bebês

Um dos mais importantes princípios da abordagem desenvolvida por Emmi Pikler (1902-1984) é o de que o adulto deve estabelecer uma relação de confiança e interação com o bebê durante os principais cuidados (banho, troca de fraldas, alimentação). Além disso, o espaço é organizado para que o bebê possa se movimentar com mais liberdade desde muito cedo, o que proporciona maior autonomia (a criança conquista cada posição por si mesma na medida em que é capaz de manter sua postura) e melhor desenvolvimento motor. 

Bebês nos afetam de maneira maravilhosa. Eles nos encantam. Eles nos tocam muito profundamente. Eu acho que não estou errada em alegar que ninguém pode passar por um carrinho de bebê de um estranho sem parar e sorrir para ele. Todo bebê e, claro, nossas próprias crianças, despertam indescritíveis emoções em nós. Nós nos inclinamos sobre nossos bebês repetidas vezes e sentimos prazer quando os vemos adormecidos, e procuramos por seus sorrisos quando estão acordados. Nós gostaríamos acima de tudo de tê-los constantemente em nossos braços.
Tudo acima é verdadeiro. E porém, não exatamente. Muitas vezes acontece que nos importantes momentos de estar juntos nós não prestamos realmente atenção neles, porque estamos preocupados com as tarefas relacionadas a eles: vestindo-lhes as camisas, limpando seus bumbuns, ajustando suas fraldas. Nós tocamo-los, movemo-los, e às vezes falhamos em notar a expectativa em seus olhares enquanto nos observam. Nós não pensamos em quão felizes eles ficariam em ‘ajudar’ se tivéssemos uma discussão com eles nesse meio tempo, e se nós contássemos a eles o que estamos a fazer:
“Agora eu irei tirar sua fralda para ver se há algo nela. Eu irei limpar sua pele e levantar seu bumbum. Você me permite fazer isso? Agora, irei colocar esse casaco em você. Vê como ele é bonito? Sua avó o fez para você. Primeiro estou puxando um braço para cima, depois o outro. Eu preciso te levantar um pouco. Não é muito fácil, mas nós conseguimos”.
Eles ajudariam? Sim. O bebê prestaria atenção naquilo que estivéssemos fazendo, relaxaria seus braços, e, com a idade de apenas alguns meses, ele levantaria seus braços em nossa direção quando lhe mostrássemos sua camisa. Uma conversa real pode ser formada dessa maneira entre o adulto e o bebê. Dessa maneira, os rápidos e pouco cuidadosos movimentos que frequentemente lançam uma sombra na atividade conjunta durante os momentos passados juntos podem ser evitados: pernas levantadas muito altas, muito rapidamente giradas para o lado, o braço do bebê ficando preso na manga, ou as pernas presas nos macacões com zíper (não muito práticos).
Esta pode ser uma experiência bastante desagradável para o bebê. E também acontece que, ao invés de um rico e significativo diálogo realizado durante um prazeroso momento conjunto, o adulto tem que vestir um bebê que chora e protesta. Nesta hora, o adulto tentaria acalmar o bebê: “Eu estou vendo que você está cansado. Tudo bem, terei pressa e nós iremos terminar rápido”. Neste meio tempo, os movimentos ficam cada vez mais rápidos, e frequentemente precipitados, portanto ainda mais desagradáveis para a criança. É uma pena. Por quê? Porque a atividade de vestir ou trocar, repetida várias vezes no dia, pode ser também um alegre encontro em conjunto.


Publicado por Mariana em Desenvolvimento infantil
Este post traz a primeira parte do artigo “Estar com os bebês”  (original no site Pikler/Lóczy Fund USA), escrito por Anna Tardos, do Instituto Pikler em Budapeste. 
Adaptações: Heloisa Pedroza lima
Estar com bebês – Anna Tardos
Tradução: Mariana Discacciati
Revisão da tradução: Raquel Borges
Fonte: http://www.educacaodecriancas.com.br/desenvolvimento-infantil/emmi-pikler-orientacoes-para-cuidados-com-bebes-parte-1

Ações pedagógicas - Abordagem Emmi Pikler


“Não podemos esquecer que são nos pequenos gestos do cotidiano que
se traçam as bases do desenvolvimento futuro.”

Sylvia Nabinger

 
O tipo de sujeito que se deseja construir depende fundamentalmente das escolhas éticas e epistemológicas que embasam o trabalho junto ao bebê. Por este motivo, as ações pedagógicas devem ser fundamentadas a partir das escolhas dos teóricos e dos pensadores da educação na primeiríssima infância, que favoreçam a construção de um trabalho coerente com os princípios e os valores da escola.
A UNIEPRE dialoga de forma muito especial com as ideias de Emmi Pikler, médica Húngara que elaborou uma abordagem com muitos detalhes que devem envolver as relações das educadoras com os bebês.
Essa abordagem traz alguns princípios: 
motricidade livre, vínculo afetivo, brincar e autonomia.
O movimento livre propicia a autonomia e o brincar. Não se trata somente de deixar a criança brincar livremente e, sim, da atitude do adulto, dos espaços e dos materiais oferecidos para as crianças.  Essa abordagem foi pioneira na defesa do movimento livre do bebê.
A crença principal é que não se ensina motricidade, o desenvolvimento motor se dá a partir do processo de maturação e das experiências que o bebê realiza para formar sistemas de equilíbrio. Quando a criança conquista uma posição com o corpo (sentar, ficar em pé) ou um movimento (rolar, engatinhar, andar, subir, descer) por ele mesmo, através de ações exploratórias, ela desenvolve o sentimento de competência.
Outra questão bastante defendida nas ideias de Pikler se refere às palavras gentis nos cuidados cotidianos com os bebês, pois são essas situações que os levam a uma experiência de serem aceitos, entendidos e compreendidos. O mais importante é como a educadora está com a criança e como satisfaz suas necessidades. O cuidado é o que proporciona o encontro, que possibilita o entendimento do outro que a toca e que a entende.
Por: PatriciaBignardi – Coordenadora do Núcleo Pedagógico Uniepre
Fonte:  http://www.uniepre.com.br/blog/abordagem-emmi-pikler-na-uniepre/
Adaptações: Heloisa Pedroza Lima

Abordagem Emmi Pikler – Educação infantil

Emmi Pikler
Reverenciada por estudiosos de educação de diversas partes do mundo, Emmi Pikler, médica austro-húngara, fundou uma instituição em Budapeste após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1946, para abrigar órfãos e também crianças de até 3 anos que corriam o risco de ser contaminadas pela tuberculose dos pais. Ali colocou em prática suas ideias, as quais consistiam em interferir menos no estágio de maturidade dos bebês, respeitar a individualidade de cada um e dedicar um cuidado especial permeado por uma relação de afeto entre 
o adulto e a criança.
A primeira infância é extremamente fundamental na vida das pessoas e poucos compreendem o valor que esta possui. Hoje em dia, a infância tem sido comprimida entre tarefas e compromissos precoces que os pais buscam para as crianças pensando que estão colaborando para o desenvolvimento e preparando um futuro seguro e feliz.
Muitos adultos exercem uma pressão psicológica e física em suas crianças, pensando no desenvolvimento psicomotor, achando que assim a criança irá se desenvolver mais rápido.
Essa pressão resulta em um caminhar desestruturado, desequilibrado e inseguro, os quais refletem diretamente no psique emocional das crianças. Porém, se as crianças desde o nascimento são respeitadas em sua infância, conseguirão desenvolver suas potencialidades de maneira natural e se tornarão adultos mais seguros, determinados e felizes.
Essa é uma das primícias da abordagem Pikler-Lóczy, desenvolvida por Emmi Pikler (1902-1984), a qual destaca a importância de se respeitar cada criança a fim de que estas se desenvolvam em um ambiente amoroso, respeitoso e seguro.
Pouco conhecida no Brasil, a abordagem Pikler, voltada para a educação de crianças de 0 a 3 anos, começa a dar os primeiros passos no país.

O método se baseia em quatro princípios:
  1. O Valor da atividade autônoma, em que as cuidadoras têm o papel de motivar e levar o bebê a descobrir o prazer de agir livremente.
  2. A relação afetiva privilegiada no contexto institucional, ou seja, é importante que a criança crie um vínculo consciente – não se trata de uma tentativa de substituição dos pais.
  3. A necessidade de oportunizar às crianças a consciência de si e do seu ambiente.
  4. O bom estado de saúde das crianças completa o enquadramento teórico.
O resultado desse conjunto aplicado são crianças confiantes e alegres, que se desenvolvem harmoniosamente e compreendem os adultos.

Fonte:  https://uaubaby.wordpress.com/2015/07/31/abordagem-emmi-pikler-educacao-infantil-2/
Adaptações: Heloisa Pedroza Lima
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O brincar é o cenário, é a forma como a criança vive, experimenta, interpreta e participa dos espaços sociais. O individual e o coletivo, a relação consigo mesmo e com o outro que se constrói no cotidiano. 
Quando a criança brinca ela está inteira, ela vive através da fantasia o real. Ela busca sua interpretação do mundo e das relações. Quando a criança brinca ela lida com os sentimentos, com seus medos e alegrias, ela entra e sai de diferentes papéis e assim se desenvolve. 
Brincando ela se constitui, percebe-se como única através do reconhecimento do outro.

Ateliê Carambola