segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Vamos iniciar falando da adaptação dos pequenos.

A D A P T A Ç Ã O
"A adaptação pode ser entendida como o esforço que a criança realiza para ficar, e bem, no espaço coletivo, povoado de pessoas grandes e pequenas desconhecidas. Onde as relações, regras e limites são diferentes daqueles do espaço doméstico a que ela está acostumada. Há de fato um grande esforço por parte da criança que chega e que está conhecendo o ambiente da instituição, mas ao contrário do que o termo sugere não depende exclusivamente dela adaptar-se ou não à nova situação. Depende também da forma como é acolhida."
Cisele Ortiz

É hora de pensar em como receber os pequenos.
Para nos ajudar nesta tarefa, alguns princípios são importantes:

Princípios para planejar uma boa acolhida

  1. Manter a rotina que a criança pequena tem em casa, no caso de menores de 3 anos, quanto aos cuidados específicos. Manter os rituais para dormir, comer ou usar o banheiro.
  2. Para as maiores de 3, explicar como será o seu dia a dia e colocar a rotina visualmente num quadro, para que a criança aprenda a controlar os diferentes momentos.
  3. Objetos Transicionais ou objetos de apego – Algumas crianças usam objetos tais como paninhos, chupetas, brinquedos e ficam apegadas a elas. Estas coisas têm um significado especial para elas pois criam a ilusão de que a mãe ou a pessoa na qual investem afeto estão próximas, lhes proporciona maior conforto emocional e segurança.
  4. Valorizar a identidade da criança, e escolher junto com ela seu escaninho, seu cabideiro, colocando seu nome e garantindo que aquele lugar ficará disponível para ela todos os dias para que possam guardar suas coisas.
  5. Não ficar ansiosa para que a criança ajuste sua rotina a do grupo muito rapidamente Deixar que a criança mantenha seu jeito de ser, seus rituais e sua rotina individualizada, para aos poucos se ajustar ao grupo, proporciona suavidade ao processo sem rupturas bruscas e maior controle do adulto sobre o processo.
  6. Conversar a criança sobre seus sentimentos, sobre a rotina, contar o que vai acontecer com ela, ajudar a criança a expressar seus sentimentos e valorizá-la enquanto pessoa e promover sua auto- confiança para lidar com esta situação.
  7. A inserção das crianças deve ser feita progressivamente, duas crianças por subgrupo, por semana, sendo que cada criança inicia em um período do dia (manhã/tarde), o que dá às educadoras maior disponibilidade no atendimento a cada criança e seu acompanhante.
  8. Normalmente uma semana é necessário para que algum familiar permaneça junto à criança na creche, sendo seu tempo de permanência, gradualmente reduzido, à medida em que aumenta o tempo de permanência da criança na escola, até este ficar mais tranqüilamente período integral, se for o caso.
  9. A professora deve procurar manter uma rotina estável sem muitas variações para que a criança vá dominando cada vez a rotina. As crianças aprendem a se localizar no tempo, no espaço e com as atividades quando a rotina é mantida, além de construir vínculos e se organizar para a aprendizagem.
  10. Organizar cantos de atividades diversificadas com aquelas que ele sabe que dão mais ibope para aquela faixa etária específica, auxilia o professor a despertar o interesse da criança pela brincadeira e a se interessar pela escola. Vale também saber quais as brincadeiras e brinquedos preferidos da criança para introduzi-los neste momento. Os cantos de atividades podem também favorecer que as outras crianças fiquem mais livres e brincando entre si, enquanto o professor pode dispensar uma atenção especial para a criança nova.
  11. Considerar o parque como um espaço de atividade e planejar também intervenções também para este momento. No verão brincadeiras na areia e na água, bolhas de sabão, lavar roupas de bonecas, lavar o quintal, regar plantas, e fazer estas coisas com todo o grupo vai mostrando para as crianças que o ambiente doméstico e o escolar possuem diferenças e semelhanças. No inverno os jogos motores, as cirandas, os circuitos e obstáculos, garantem que a criança possa brincar fora e estar aquecida.
  12. Propor atividades culinárias simples: fazer gelatina, pipoca, suco, docinho de leite em pó, salada de frutas para o lanche ou sobremesa, favorece que a criança perceba a continuidade temporal.
  13. Propor leitura de histórias como metáforas dos momentos que a criança vive. Pode-se conversar sobre as histórias falando dos medos básicos de todas as crianças assim é possível que a criança também se exponha e consiga lidar melhor com seus sentimentos.
"O acolhimento traz em si a dimensão do cotidiano, acolhimento todo dia na entrada, acolhimento após uma temporada sem vir à escola, acolhimento quando algum imprevisto acontece e a criança sai mais tarde, quando as outras já saíram, acolhimento após um período de doença, acolhimento por que é bom ser bem recebida e sentir-se importante para alguém.
Quando somos acolhidos, bem recebidos, em qualquer lugar, em geral nossa reação é de simpatia e abertura, esperando o melhor daquele ambiente daquelas pessoas. Quando ao contrário somos recebidos friamente, nossa tendência é também ignorar, não se envolver, passar desapercebidos. E o que acontece quando somos mal recebidos? A gente jura não voltar mais àquele lugar!"
"Por que com a criança e sua família deveria ser diferente?"
"Se considerarmos que cuidar é considerar e atender as necessidades infantis, ouvir e observar as crianças, seguir ao princípio de promoção de saúde, tanto ambiental como física e mental, interessar-se pela criança, pelo que ela pensa, sente, sabe sobre as coisas, sobre os outros e sobre si mesma, adotar atitudes e procedimentos adequados e fundamentados em conhecimentos construídos sobre as diferentes faixas etárias e realidades sócias culturais, o processo de acolhimento é um dos primeiros a ser objeto de cuidado em relação à criança."
"Para a criança entrar na creche, pré-escola e mesmo na escola significa um processo ativo de construção de novos conhecimentos e de vínculos. Quando a criança chega na instituição ela já tem expectativas sobre o comportamento dos adultos, das outras crianças e até mesmo da forma de se relacionar com os objetos e brinquedos, pois ela já construiu referências a partir de suas vivências e experiências, mesmo que seja uma criança bem pequenina, um bebê. "
"Ela precisa de um tempo para que conscientemente fique claro para ela as diferenças entre sua casa e a escola, assim como para que ela transfira seus sentimentos básicos de confiança e segurança para alguém. Este tempo é bastante individualizado, algumas crianças passam por este momento de forma mais rápida, outros mais lenta, não podemos estabelecer isto a priori."
"As crianças lidam fundamentalmente com a ansiedade da separação: a escola tem um papel fundamental ao estabelecer o corte na relação mãe-filho, e isto pode ser bastante positivo para ambos, no entanto pode gerar insegurança e fantasias de abandono e a escola e o professor são o porto seguro da criança nesta situação, garantindo-lhe o tempo todo através de sua atenção e de atividades adequadas o quanto elas não serão esquecidas." 5
"Algumas crianças demonstram maior confiança e passam a freqüentar a escola como se naturalmente já fizessem parte daquele ambiente; talvez sejam crianças melhor preparadas emocionalmente, que já tenham vivenciado experiências positivas de separação, ou que esperam este momento ansiosamente, porque têm outros irmãos que já freqüentam a escola."
"Mas, a maior parte das crianças podem reagir fortemente à separação e há diferentes maneiras das crianças reagirem a este processo: podem chorar ou ao contrário ficarem muito caladas, podem agredir a outras, podem adoecer, podem recusar-se a comer, a dormir, a brincar, é preciso acolher estas manifestações e conhecer a forma de cada um considerando como natural dentro deste processo e não rotulando a criança a partir disto. Algumas crianças têm rituais específicos para dormir, comer ou usar o banheiro, outras usam objetos tais como paninhos, chupetas, brinquedos e ficam apegadas a elas. Estas coisas têm um significado especial para elas pois criam a ilusão de que a mãe ou a pessoa na qual investem afeto estão próximas, lhes proporciona maior conforto emocional e segurança. Deixar que a criança mantenha seu jeito de ser, seus rituais e sua rotina individualizada, para aos poucos se ajustarem ao grupo, proporciona suavidade ao processo sem rupturas bruscas e maior controle do adulto sobre o processo.
Conversar a criança sobre seus sentimentos, sobre a rotina, contar o que vai acontecer com ela, ajudar a criança a expressar seus sentimentos e valorizá-la enquanto pessoa e promover sua auto- confiança para lidar com esta situação" 
Alguns indicadores de sofrimento
Outros sinais e indícios, além do choro, são reveladores do modo de estar na escola: dificuldade de vir para a escola; dificuldade de separar-se da mãe ou de quem traz a criança para a escola; rejeitar ser cuidado por outra pessoa; rejeitar alimentação; recusar-se a dormir; evitar usar o banheiro; recusar participar das atividades propostas; recusar separar-se de seus objetos de apego, tais como chupetas e paninhos; ficar apático ou ao contrário muito agitado; bater e agredir outras crianças sem motivo aparente; ficar doente seguidamente ou desenvolver doenças crônicas ligadas ao intestino, ou, ao aparelho respiratório; machucar-se continuamente, entre inúmeros outros que são característicos de cada criança e de sua história de vida.
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Texto adaptado apartir do artigo Entre adaptar-se e ser acolhido in Revista Avisa Lá, nº 2 Cisele Ortiz (www.avisala.org.br)
Leia ainda:
Adaptação: o fim dos cinco mitos.
Adaptação bem feita.
Adaptação no Ensino Fundamental. E por que não?



































































































































































































































































































































































































 
 

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