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segunda-feira, 26 de novembro de 2018
Consulta Pública sobre Inclusão, vc participou?
MEC quer que alunos com deficiência possam frequentar apenas escolas e classes especiais
Alunos
com deficiência necessitam de um apoio especial durante as aulas, o
maior motivo da diferença de opiniões sobre o tema.
Terminou
nesta sexta-feira (23) a consulta pública sobre o texto preliminar do
novo marco regulatório da educação especial, que permitirá a estudantes
com deficiência frequentar apenas escolas e classes especiais, ou seja,
deixar de frequentar as escolas regulares. De acordo com a nova Política
Nacional de Educação Especial, a escola especial é indicada “quando
barreiras nas escolas comuns não forem superadas, para a garantia da
efetiva aprendizagem, participação e igualdade de oportunidades”. Grande
parte dos pais, educadores e especialistas estão se manifestando contra
a proposta.
Segundo o Ministério da Educação (MEC), a proposta é
atualizar a legislação vigente. Atualmente, há mais de um milhão de
matrículas de estudantes do ensino especial nas escolas públicas e
privadas da educação básica. O texto, no entanto, traz pontos
considerados polêmicos, como as escolas especiais. Para a advogada e
vice-presidente da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de
Down, Ana Cláudia Mendes de Figueiredo, permitir que a escolarização dos
alunos com deficiência deixe de acontecer nas escolas e classes
regulares “é um retrocesso”. A entidade participou das reuniões, junto
com outros especialistas na área, mas diz que nenhuma de suas sugestões e
ponderações foi contemplada.
Ana Cláudia defende que esses
estudantes frequentem classes tradicionais e que as escolas sejam
adequadas para recebê-los. Segundo ela, o texto proposto promove a
segregação de alunos que “não conseguem acompanhar” ou ter pleno êxito
escolar medido por avaliações e retoma “modelo médico da deficiência,
pautado na incapacidade e na incompetência do aluno”.
O novo marco
é, no entanto, elogiado pela coordenadora nacional de Educação e Ação
Pedagógica da Federação Nacional das Associações de Pais e Amigos dos
Excepcionais (Apaes), Fabiana Maria das Graças Oliveira. “Temos alunos
que têm necessidade de ajuda e apoio intenso e adaptações significativas
que dificilmente conseguiriam estar em uma escola comum. A escola
especial é só esse caso”.
Segundo a relatora da Comissão de
Educação Especial do CNE, Suely Menezes, a política, criada em 2008,
ainda não está plenamente em prática. “A política de 2008 colocou o
aluno com deficiência nas classes regulares. A política é estabelecida
dentro de uma visão internacional que puxa o Brasil para adotar esses
conceitos e atitudes internacionais, mas o Brasil não estava muito
preparado”, diz.
O novo marco, que foi elaborado pelo Ministério
da Educação (MEC) em parceria com especialistas, esteve disponível para
receber contribuições da sociedade pelo site www.mec.gov.br. O texto final será encaminhado ao Conselho Nacional de Educação (CNE).
Convivência cria estímulo e novas experiências
Jamile
com os filhos João e Pedro, que frequentam uma escola regular da rede
municipal de ensino. Crédito da foto: Arquivo Pessoal
A
dona de casa Jamile Moura, 34 anos, é mãe de duas crianças autistas, o
João Vitor, de 7 anos, e o Pedro Henrico, de 5. Para ela, a proposta de
atualizar a legislação é um retrocesso. “Meus filhos têm acompanhamento
na escola, fazem a sala de apoio e têm acompanhamento específico. Os
dois contam com cuidador”, diz. Ela se diz “totalmente contra”
deixar as crianças apenas em entidades. “Meus filhos, convivendo com
crianças neurotípica, têm uma evolução muito rápida. Consigo ver coisas
diferentes, novos aprendizados.”
O grau de autismo das crianças é
moderado e João Vitor, que não falava, tem pronunciado frases. Já o
caçula ainda não fala, mas a mãe acredita que isso ocorrerá com o tempo.
“Eles compreendem tudo e têm muito boa convivência com os amiguinhos.
Fazem as atividades propostas e na dificuldade, o cuidador ajuda.”
Jamile
conta que as duas crianças estudam em escolas municipais e no caso dos
dois, a avaliação é feita de maneira diferente. “Quando vou na reunião, é
apresentado um dossiê de tudo o que fizeram, com fotos e filmagem, e
assim vejo o que tem sido trabalhado com eles.”
Na escola Paulo
Tortello, conta Jamile, a professora Adriana trabalha a Análise
Comportamental Aplicada (ABA) com o João. Já no CEI-45, a diretora do
Pedro faz muita especialização e foi para Cuba este ano estudar sobre as
crianças autistas. “As crianças neurotípicas são escolarecidas e ajudam
meus filhos. Eles são bem acolhidos pelos amiguinhos, esse vínculo
afetivo é importante para eles. Para as crianças neutotípicas também é
importante porque já crescem sem preconceito, sem achar que o amiguinho
diferente não serve para estar junto.” Com a nova proposta, Jamile tem
receio que seus filhos regridam na evolução que já conquistaram.
Gisele
Vieira Hessel, cuidadora de crianças com deficiência na rede municipal
de Sorocaba, discorda completamente da nova proposta, pois acredita ser
muito importante para estas crianças frequentarem as escolas comuns.
“Elas aprendem muito com as outras, absorvem comportamentos, imitam
muito e aprendem a se socializar, a brincar”. Para ela, essa notícia da
mudança na lei é um choque. “Quem propôs não conhece a realidade
escolar, a diferença que faz na vida das pessoas com deficiência. Elas
florescem. No caso das que não têm necessidades especiais, também faz a
diferença porque essa geração está sabendo conviver com crianças
diferentes.” Quando o aluno não tem condições de ir até a escola, é
feita a educação domiciliar. “Temos um estudante na escola que é
atendido dessa maneira e quando tem festa, teatro na escola, a mãe leva
para ele ter também a socialização.”
Já Sheila Garbulha Tunucchi,
professora da educação especial há 12 anos, e que trabalha em sala de
recursos numa escola rural de Porto Feliz, afirma que não é contra nem a
favor da alteração — porque depende muito do que vai ser decidido. Ela,
que é especialista em deficiência intelectual e atende também outras
deficiências, observa que tem casos de crianças que não teriam condições
de estar em salas regulares e que deveria ter uma preparação para que
elas pudessem de fato estar junto das outras. “Teria de ter um trabalho
anterior para depois incluir no ambiente escolar. Todos têm direito a
aprender desde que um não atrapalhe o aprendizado do outro.” Sheila
afirma que a atual legislação não funciona como deveria. “Por isso sou a
favor de trabalhar o potencial do individual, independente do local
onde a criança está.” (Com informações da Agência Brasil)
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