domingo, 16 de fevereiro de 2014

Curiosidade, experiências, descobertas, conhecimentos, possibilidades...


A CRIANÇA E A NATUREZA
As crianças declaram sua preferência pelos espaços abertos, em contato com a natureza, porque são modos de expressão desta mesma natureza.
ESPINOSA, 1983
Delimitação do campo de experiência

Esse campo de experiência trata de fenômenos e acontecimentos físicos, biológicos e químicos que ocorrem em função das transformações próprias da natureza ou pela ação dos homens sobre ela. Envolve, portanto, experiências de contato, de conhecimento, de cuidado relativos à sustentabilidade da vida na Terra.
A natureza é para todos nós, seres humanos, fonte de curiosidade, mistérios, beleza e sabedoria. Estamos naturalmente ligados a ela, uma vez que somos parte dela.
Construção histórica
Desde os tempos mais remotos, o homem busca descobrir a sua origem e a origem dos elementos, fatos e fenômenos que compõem seu ambiente. A partir das perguntas que se faziam para compreender esse mundo, os mistérios da natureza e as formas de se relacionar com ela, o homem, no seu processo civilizatório, criou mitos, tabus, lendas, técnicas e construiu a ciência.
Os conhecimentos sobre o mundo natural foram se desenvolvendo a partir de necessidades básicas de nossos ancestrais, ligadas à sua sobrevivência. A vida em sociedade, a descoberta da agricultura e a expansão do comércio ampliaram as possibilidades de produção e a diversificação de conhecimentos. Esses conhecimentos, inicialmente informais, (saberes) eram transmitidos nas experiências cotidianas.
Com o passar do tempo as sociedades ficaram mais complexas e os homens foram fazendo novos questionamentos e buscando novas formas para explicar as origens e o funcionamento do mundo natural. Surge assim o conhecimento científico que tem como características a objetividade e a necessidade de comprovação, por meio de métodos e técnicas que se utilizam de formulação de hipóteses, observação, experimentação, análise e verificação, entre outros.
Hoje, o conhecimento sobre o mundo natural tem-se desenvolvido com uma rapidez assustadora e sua divulgação também acontece de forma muito dinâmica e democrática em função da evolução dos meios de comunicação. Todos os dias surgem estudos, pesquisas e novas teorias, buscando compreender e melhorar as formas de se viver nesse mundo.
Entretanto, as grandes conquistas humanas não têm-se revertido em melhoria para a elevação da qualidade de vida no mundo, especialmente para as populações mais pobres. Ao tentar compreender e controlar a vida natural, o homem abandonou a sua essência como ser da natureza, deixando de se reconhecer como uma entre as demais espécies existentes no planeta, esquecendo-se também de sua responsabilidade na preservação e manutenção dos bens naturais para as gerações futuras. 
Desenvolvimento e aprendizagem pela criança
Da mesma maneira que o homem primitivo, cada ser humano, ao nascer, insere-se na complexidade desse mundo natural e tem pela frente a tarefa de desvendar o seu próprio ambiente. Realiza assim, uma verdadeira viagem, única para cada pessoa e com tempo e espaços diferentes para cada e gradativamente, irá tornando-se mais humano, construindo sua subjetividade e produzindo significados. Interagir, observar, manipular, experimentar, questionar e alterar são ações praticadas, o tempo todo, pelas crianças, desde muito cedo, na relação que estabelecem com a natureza. Dependendo das vivências que lhe são oportunizadas, relacionam-se de forma cada vez mais harmoniosa com a natureza, conhecendo-a e respeitando-a.
A criança precisa ser instigada em sua curiosidade e orientada a conhecer e atuar melhor no mundo em que habita, vivenciando, experimentando e buscando respostas para seus questionamentos em relação aos mistérios e fenômenos naturais.  Assim, desde pequenos, precisamos incentivá-los a descobrir e desbravar o mundo à sua volta; a se proteger cuidando de si, do outro e do planeta; a conhecer e transitar em espaços e regiões diversas; a compreender a nossa e as demais espécies, animais e vegetais, bem como os fenômenos físicos e químicos.
É preciso, pois, desenvolver o fazer da criança, de forma que ela aja com crescente autonomia de pensamento e de ação; desenvolva uma postura de aprendizagem através da pesquisa, da elaboração de hipóteses, da observação, da busca e organização de materiais, da sistematização e do desenvolvimento de formas de registro do conhecimento. Também se espera que ela desenvolva de maneira ética, habilidades, atitudes, procedimentos e estratégias para se relacionar com a natureza, preservando-a e respeitando-a, sentindo-se parte dela.
 A utilização das ideias prévias das crianças é de fundamental importância na caminhada rumo à construção do conhecimento sobre o mundo e a natureza. Assim, o encontro com o conhecimento passa a ter um outro caráter – o de ampliar as possibilidades de compreensão sobre o mundo que nos cerca. A criança torna-se protagonista de sua aprendizagem, para que ela desenvolva e aumente sua capacidade de compreender o mundo, pensar e agir sobre ele, para que tenha respostas às suas questões e desenvolva as suas hipóteses, de forma a estabelecer relações e integrar os conhecimentos específicos, para também desenvolver habilidades, atitudes e procedimentos de investigação, de pesquisa e de formulação de novos questionamentos, de forma a ampliar os seus temas de interesse.
O conhecimento sobre a natureza se dá por meio das experiências vividas no dia-a-dia, fruto da curiosidade, inquietação e atividade investigativa das crianças e da intervenção da professora. Este conhecimento se manifesta na infância através dos “porquês” e “comos” que as crianças não se cansam de formular e se torna o princípio básico do conhecimento cujo fim primordial é a satisfação em obter respostas aos seus questionamentos.
É essa curiosidade que conduz o trabalho sobre o conhecimento da natureza na Educação Infantil, pois a criança demonstra o interesse e necessidade momentânea de se apropriar de um conhecimento que pode ser sobre a alimentação dos animais, nascimento de filhotes, sobre o dia e a noite, por que temos que tomar banho, por que não conseguimos segurar a água, como os peixes dormem, como fazemos gelo, por que a coleguinha tem cabelos lisos e a outra encaracolado etc. Enfim, são muitas as questões para as quais elas  buscam respostas. O contato com pequenos animais como formigas e tatus-bola, peixes, tartarugas, patos, passarinhos etc. pode ser proporcionado por meio de atividades que envolvam a observação, a troca de idéias entre as crianças, o cuidado e a criação com a ajuda do adulto. Desta forma, a criança deve ser desafiada a dar respostas para questões que ela mesma colocou. Não se pode esquecer, também, de que ela aprende quando brinca com outras crianças e quando participa de atividades programadas pelas professoras.
Objetivos
O trabalho com a criança e a natureza na Educação Infantil tem como objetivos possibilitar às crianças:
  • Ampliar as possibilidades de ação e compreensão sobre o mundo que a cerca, tendo acesso ao conhecimento sobre o mundo natural, a partir de sua curiosidade e através das brincadeiras e práticas sociais vivenciadas;
  • Desenvolver uma postura de respeito pela natureza refletindo sobre os problemas ambientais da atualidade, sobretudo sobre aqueles de sua comunidade próxima;
  • Desenvolver sua curiosidade e construir conhecimentos a partir das perguntas que se faz sobre o mundo natural;
  • Desenvolver uma visão ecológica do mundo, conhecendo a natureza, sensibilizando-se e percebendo-se como parte dela.
  • Reconhecer um problema ambiental da comunidade a que pertence e propor soluções;
  • Refletir sobre o mundo em que vive pensando em possíveis soluções para os problemas ambientais.
  • Desenvolver a capacidade de observar, elaborar hipóteses, prever acontecimentos, expressar e registrar suas idéias;
  • Desenvolver a capacidade de trocar ideias e informações sobre os problemas naturais e ambientais e buscar soluções para colaborar na resolução desses problemas;
  • Aprender a buscar informações, através de diversos meios;
  • Conhecer e utilizar instrumentos da cultura que favorecem a pesquisa, a investigação e a ampliação e circulação do conhecimento tais como: internet, jornais, lupa, microscópio, revistas especializadaS;
  •  Conscientizar-se sobre a importância da preservação do ambiente e para a preservação da qualidade de vida humana.
s  Experiências:
Para atingir os objetivos do trabalho com a criança e sociedade, deve-se oportunizar à criança significativas experiências de: 
Cuidar, preservar, zelar, conservar espaços da escola  e fora dela: Cuidar de plantas, hortas e jardins da escola ou de seus arredores;
  • Plantar pequenos vasos para serem colocador em sala ou outro local  utilizando potes de garrafas pet que podem ser trazidos pelas crianças;;
  •  Pode-se propor às crianças listas com o nome das plantas, desenhos, conversar sobre cada uma delas, suas características, seus cuidados, falar sobre a preservação dos canteiros das praças e jardins das ruas, perto de suas casas, próximos à escola, da preservação das matas e florestas...
  • As crianças menores podem mexer na terra e aguar.  
Registrar o trabalho realizado confeccionando álbuns, diários, cadernos, cartazes, etc: Estes podem ser coletivos  ou individuais utilizando gravuras de plantas, fotos, desenhos, listas tudo a partir da observação e da ação da turma.
Observar todo tipo de fenômenos naturais : Experiência do feijãozinho no copinho de café é uma ótima oportunidade para a observação e registro dos fenômenos. Plantio de cenoura, beterraba, quiabo, milho também oportuniza às crianças ver a semente, a brotinho, a planta crescer, a raiz...
  • Observar o gelo transformar-se em água, o açúcar e sal misturado a água, o álcool evaporar ao ser passado em alguma superfície...
  • Observar a chuva, o sol, o vento, as nuvens, o céu;
Criar e cuidar de animais:  Criar pintinhos, passarinhos, coelhos pode ser uma boa opção para o trabalho com as crianças. Se não for possível , explorar com as crianças em uma roda de conversa os animais que podem ser cuidados desta forma. Com as crianças menores pode-se fazer um trabalho com imagens e também criar um mascote para a turma cuidar (bicho de pelúcia) que pode ser escolhido com a participação das crianças e até dos pais em forma de eleição. As crianças podem cuidar durante o dia, levar para casa...
Participar de passeios fora da escola a museus, zoológicos, bibliotecas, parques, quarteirão da escola, casa de um colega
  • Os passeios podem ser uma boa opção para observar a natureza. 
Fazer entrevistas, pesquisar em livros, revistas, jornais, internet;

Realizar e vivenciar experimentos e misturas tais como: produção de tintas com produtos naturais, culinária, luz e sombra, movimentos do ar (dentro do balão, apagando a vela, cata-vento etc.);

Utilizar instrumentos tais como: lupa, microscópio para fazer observações;

Elaborar perguntas, questões relativas ao mundo físico e natural;

Levantar e registrar hipóteses: em um cartaz tendo o professor como escriba que poderá ficar fixado em sala após as crianças desenharem para ilustrá-lo.

Assistir a filmes relativos ao mundo físico e natural;

Compartilhar conhecimentos com colegas: Roda de conversa

Sentir-se parte da natureza;

Pesquisar, juntamente com a professora, em livros, revistas, enciclopédias  e na internet, respostas para as suas indagações;

Fazer coleta seletiva na escola e buscar formas de realizar em casa: para escolas onde as crianças levam lanche de casa

Manipular objetos, explorando suas características físicas e experimentando as várias relações entre eles;

Reaproveitar materiais da natureza e da cultura, fazendo reciclagem e compostagem: plantar em potes de garrafa pet, pneus...

Observar;
Comparar;
Avaliar;
Questionar;
Concluir.
Saberes e conhecimentos
Ao vivenciarem tais experiências, espera-se que as crianças construam os seguintes conhecimentos e saberes (atitudes, valores, procedimentos):
  • Conhecimento sobre a necessidade de preservação e cuidado com a natureza;
  • Conhecimento sobre o uso da observação, pesquisa, registro e questionamento para obter respostas sobre o comportamento das pessoas, animais e da natureza de modo geral;
  • Conhecimento da necessidade de cada um fazer a sua parte para preservação da natureza;
  • Saber da necessidade de respeitar os seres e a natureza para se ter boa convivência;
  • Conhecimento da origem dos fenômenos e dos seres vivos;
  • Saber que todo efeito tem uma causa e vice-versa;
  • Conhecimento da necessidade de transformação e criação de recursos naturais e alternativos para sobrevivência e/ou continuidade da vida;
  • Conhecer, manipular, selecionar e organizar materiais diferentes;
  • Conhecer os problemas do meio ambiente vividos pela comunidade em que estão inseridos;
  • Reflexão sobre o mundo em que vivem;
  • Planejar, avaliar e registrar um experimento;
  • Conhecer objetos produzidos em diferentes épocas (ampulheta, relógio de sol, mimeógrafo, telefones antigos etc.);
  • Observar e conhecer a paisagem local e de outras regiões: montanhas, rios, vegetação, animais;
  • Saber usar instrumentos e fontes de informação;
  • Conhecimento dos cuidados básicos de pequenos animais e vegetais por meio da sua criação, cuidado e cultivo;
  • Plantio e cuidado com as plantas;
  • Relação e cuidado com animais
  • Atitude investigativa, curiosa como: fazer perguntas, levantar hipóteses, observar, explorar, argumentar, registrar;
  • Atitude de respeito e cuidado com a natureza, preservando-a
  • Estabelecimento de algumas relações entre diferentes espécies de seres vivos, suas características e suas necessidades vitais (papel de cada um no ecossistema).
Postura do professor
O professor como mediador deve criar situações desafiadoras, considerando e questionando constantemente o conhecimento trazido por elas. Essa forma de trabalhar na educação infantil apresenta-se como inovadora, superando a fragmentação dos conteúdos e a visão de que a escola é um lugar de respostas prontas e acabadas, onde a criança é mera espectadora e receptora de informações pouco significativas.
É importante manter a curiosidade e a criatividade das crianças para que elas percebam que há um fazer e um refazer no que já conhecemos, tornando possível o redescobrir e transformar.
Nesse sentido, temos que possibilitar às crianças, desde a educação infantil, experiências significativas na perspectiva da formação de seres humanos capazes de dar sustentabilidade ao nosso planeta. Assim, é preciso contribuir para que desde já, assumam posturas críticas em relação ao consumismo e ao individualismo, combatam, em suas práticas sociais, uma visão utilitarista dos recursos naturais e incorporem, no cotidiano, atitudes e procedimentos com vistas a uma relação mais harmoniosa com a natureza.
Assim, é papel do professor
  •   Incentivar as crianças ao cuidado e o trato com a natureza, preservando-a;
  • Proporcionar situações diversas de interação entre as crianças e os adultos, a criança e a natureza;
  • Programar atividades que proporcionem novos conhecimentos à criança;
  • Dar oportunidades à criança para observação, pesquisa, questionamento e registros sobre o mundo natural;
  • Selecionar e organizar materiais diferentes para as crianças manipularem, usarem e conhecerem;
  •  Organizar espaços para guardar materiais e para desenvolver diferentes atividades com a s crianças;
  • Conhecer os problemas do meio ambiente vividos pela comunidade em que estão inseridos; 
  •  Fazer com que as crianças reflitam sobre o mundo em que elas vivem;
  • Planejar, avaliar e registrar;
  • Selecionar materiais diversos;
  •  Ouvir e instigar as crianças;
  •  Mediar as situações desafiadoras trazidas pelas crianças;
  •  Observar as crianças e entorno para aproveitar tudo que ele oferece;
  •  Aproveitar a curiosidade e o interesse da criança, aproveitando os assuntos introduzidos por elas;
  • Planejar a rotina para aprimorar os conhecimentos da criança;
  • Organizar o tempo, aproveitando brincadeiras e situações que estimulem a curiosidade da criança;
  • Organizar o espaço e os materiais para que dêem à criança oportunidade de novas descobertas;
  • Organizar visitas a casa de um vizinho para ver a horta, o jardim, a casa da professora etc.;
  • Organizar pequenas excursões na comunidade como: parquinhos, praças, quadra de esportes, bibliotecas etc.;
  • Organizar as crianças de várias formas para atingir o objetivo proposto: duplas, trios, círculos, em pequenas filas etc.;
  • Organizar os instrumentos de trabalho - planejar a atividade, organizar os materiais necessários, a forma de registrá-la e avaliá-la (fotos, relatórios, fichas de observação etc.).
Este eixo de trabalho nos apresenta muitas possibilidades de trabalho com as crianças a partir dos fenômenos naturais. É preciso um professor estudioso e atento às possibilidades de trabalho com a sua turma.

Um comentário:

Unknown disse...

Heloisa, parabéns pelo artigo!