sábado, 20 de fevereiro de 2016

Sobre os bebês



O que podemos aprender com os bebês
Quando adentramos o universo dos bebês (sejamos pais, mães, cuidadoras ou professoras), somos convidados a nos alfabetizar nas muitas outras formas de linguagem e expressão: gestos, sensações e infinitos movimentos corporais. Por estarmos habituados à linguagem oral, tendemos a pensar que os bebês não se comunicam. Mas essa percepção já caiu por terra há algum tempo, desde as descobertas recentes da neurociência, psicologia, pedagogia e outros campos do conhecimento interessados pelo desenvolvimento humano.
Segundo o psicomotricista André Trindade, “o bebê registra tudo o que acontece a seu redor e em seu interior por meio de sensações, emoções e gestos. Antes de poder pensar o mundo, ele o sente (…), utiliza-se das sensações de seu corpo no espaço, para conceber a si e ao mundo que o rodeia”.
Balbucios, choros, risadas e um olhar impressionantemente comunicativo. É possível estabelecer com os bebês um diálogo cheio de comunicação, ainda que sem palavras. Entrar nessa interação pode ser um mergulho e um rico aprendizado. Mas, para isso, é preciso estar atento, aguçar os sentidos e estar disponível para abrir o pensamento às sensações.
Estar entre os bebês é se deparar com uma outra forma de estar no mundo e com a cisão que nos é imposta – como adultos – entre corpo e mente, pensamento e sensação. Em tudo que fazem, os pequenos estão de corpo presente. Eles são atentos a tudo e experimentam o mundo de corpo inteiro. É assim que apreendem o mundo e se constituem.
De sentidos aguçados, quando pintam com tinta, por exemplo, não se satisfazem apenas em pintar o papel. Vão além: o corpo se transforma em tela. Para eles, interessa a sensação da tinta na pele. Associando sensações e percepções, pouco a pouco, conceituam o mundo em que vivem. Já observou bebês assistindo a uma peça de teatro? Quando algo na cena os encanta, eles se mexem, pulam, fazem gestos, riem. É possível ler em seus corpos um maravilhamento explícito.
Os bebês tudo olham, tocam, provam, cheiram. Observam, movimentam-se o tempo todo, fazem caretas, choram, agarram um objeto. Seguram o pé, colocam na boca e riem: quanta alegria e aprendizagem traduz esse gesto. Percebem as mãos e passam muito tempo as observando, fazendo movimentos suaves, miúdos. Contemplam: bebês são muito contemplativos. E quanta poesia e delicadeza há nessa forma de comunicação.
Talvez, para nos comunicar com os bebês, tenhamos que nos tornar um pouco poetas e (re) aprender com eles essa forma de estar no mundo.
“e os meus pensamentos são todos sensações
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer o fruto é saber-lhe o sentido”
Fernando Pessoa
(Juliana Montoia de Lima)

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