domingo, 21 de maio de 2017

Planejar para aprender. Aprender para planejar. Parte 1


A autora Beatriz Ferraz fala sobre Planejamentos.
Parte 1

Frente ao desafio de escrever um artigo sobre o planejamento na Educação Infantil, me vi inquieta buscando uma forma de introduzir este tema de maneira agradável e com a devida valorização que merece. Poderia iniciar escrevendo sobre a importância do planejamento na ação do educador, mas achei que não seria uma boa alternativa já que esta é uma afirmação tão conhecida.
Por onde começar? Começo, então, por um registro de uma educadora que relata a contribuição que a prática de planejar trouxe para a sua ação educativa junto às crianças.
“Trabalho com uma turma de crianças de 4 anos e pretendia realizar com elas um estudo sobre peixes. O exercício de planejar a atividade que despertaria nas crianças o interesse pelo tema foi de fundamental importância para que eu pudesse rever tudo o que estava imaginando fazer. A primeira atividade representaria o grande disparador para o trabalho que faríamos.
Senti uma profunda necessidade de pensar como o projeto deveria ser realizado. Então sentei e escrevi um planejamento:
Nome da atividade:
Quais os peixes que queremos estudar.
Contexto da atividade:
Conversa para iniciar um estudo com as crianças sobre alguns peixes.
Objetivo da atividade (o que quero que as crianças aprendam):
- Escolher os peixes que gostariam de estudar;
- Levantar algumas perguntas que gostariam de ver respondidas sobre os peixes escolhidos;
- Indicar alguns materiais que poderíamos usar para buscar informações.
Conteúdo da atividade (o que preciso ensinar):
- Elaboração de perguntas;
- Fontes de informação;
- Nome de alguns peixes.
Encaminhamento da atividade (como desenvolver a atividade com as crianças):
Levar para a roda alguns livros com imagens de peixes.
Perguntar às crianças quais peixes conhecem e, desses, quais gostariam de estudar. Listar em uma folha os peixes sugeridos pelas crianças e, se for o caso, fazer uma votação para escolhermos alguns.
Perguntar a elas o que gostariam de saber sobre estes animais. E, por fim, perguntar às crianças onde poderíamos encontrar informações para responder as perguntas. Estava muito satisfeita com o meu planejamento! A minha surpresa foi quando iniciamos o projeto e as coisas não saíram como o esperado!
Quando mostrei os livros para elas e perguntei quais peixes elas queriam estudar, apontavam aleatoriamente as imagens de peixes dos livros. Sendo assim, iam virando as páginas e dizendo que queriam saber sobre todos eles! Além disso, quando perguntei o que queriam saber, me disseram coisas como “Quantos olhos eles têm? Ele tem boca?...”. E ainda para finalizar, quando perguntei sobre onde encontro as informações, me disseram que poderia ser nestes livros mesmo que eu havia levado. Fiquei super frustrada!
Senti que as crianças não se envolveram, que não se comprometeram com a minha proposta e que estavam respondendo às minhas perguntas sem muita consideração, esperando que aquela atividade acabasse logo e que pudessem ir brincar.
Depois de muito lamentar, tomei uma decisão: voltar ao meu planejamento e pensar o que tinha de errado para produzir tal desastre!
Foi justamente nesta retomada que me dei conta de algumas coisas:
1. Se pretendia fazer uma atividade que despertasse o interesse, era importante que o foco dela estivesse em uma motivação. Sendo assim, não poderia ter como objetivo que as crianças aceitassem prontamente a minha proposta e a partir daí respondessem a todas as minhas solicitações. Pude perceber que no planejamento não estava considerando as características do pensamento infantil e, portanto, não havia conseguido fazer uma boa condução da atividade de modo que ficassem interessadas na minha proposta.
2. Também pude me dar conta de que para que as crianças pudessem formular boas perguntas que justificassem uma busca de informações em diferentes fontes era importante que elas pudessem primeiro saber algo sobre os peixes e a partir deste conhecimento poderiam levantar suposições ou mesmo comparações entre as informações que tinham gerado o interesse por novos conhecimentos. As perguntas que as crianças fizeram podiam ser respondidas com uma simples observação das imagens dos livros e este era um equívoco meu de não considerar que eu precisava ajudá-las a formular questões e, para isso, precisaria fazer alguma atividade que as ajudassem nesta tarefa.
Com estas constatações fui buscar ajuda das minhas colegas de trabalho e de minha diretora para pensar em outra atividade que pudesse gerar melhores resultados. A partir das sugestões que recebi, passei um vídeo que falava sobre o fundo do mar apresentando alguns peixes e algumas informações sobre eles. As crianças adoraram e ficaram completamente envolvidas com as imagens e as informações que receberam. Quando terminamos de assistir, tinham muita clareza dos peixes que queriam pesquisar e tinham perguntas muito interessantes, que puderam conceber a partir daquilo que viram e ouviram.
Perguntaram coisas como:
“Porque o peixe espada tem este nome?”; “Quantas pernas tem o polvo?”, “Por que tem peixe que come peixe? Os peixes ficam grávidos?” Agora sim, tínhamos perguntas que precisavam de uma pesquisa para serem respondidas.
Fiquei muito contente com o novo rumo que tomou meu trabalho com as crianças. Sei que foi graças ao planejamento feito e depois reelaborado que pude aprender coisas tão importantes sobre a relação ensino-aprendizagem e principalmente, sobre as boas ações do educador que favorecem aprendizagens significativas às crianças!”
A reflexão desta educadora sobre o uso do planejamento como um instrumento que nos ajuda a adequar melhor nossas ações e com isto propiciar uma aprendizagem de qualidade às crianças nos traz muitas informações sobre o quê significa planejar, paraque planejar e como planejar.

Fonte: Pesquisa da Net

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