domingo, 8 de fevereiro de 2015

Baú de histórias

Conta uma história pra mim?
No livro, o pequeno Fonchito morre de vontade dar um beijinho no rosto de Nereida, a menina mais bonita da escola. Mas como nem tudo é tão simples, Nereida só aceitará o carinho se Fonchito puder lhe trazer, nada mais nada menos, do que a lua! Em Lima, capital peruana onde se passa a história, a lua aparece muito pouco já que o céu quase sempre está nublado. Mas como nada é impossível, no terraço de sua própria casa, numa noite de sorte, Fonchito descobrirá uma maneira de conseguir o que tanto queria.

O ar falta, a boca fica seca, as pernas tremem, e o coração bate forte. Quem já viveu um grande amor facilmente reconhece esses sintomas. Mas e quando o amor acontece pela primeira vez? Os sintomas são os mesmos, mas a intensidade... ah, é muito maior. No espetáculo “Fonchito e a Lua”, que estreia amanhã em um novo espaço cênico do Centro Cultural Banco do Brasil, um menino é desafiado a trazer a Lua em troca de um beijo de Nereida, a menina mais bonita da escola.

Idealizada pelo ator Pablo Sanábio, a adaptação foi inspirada no livro homônimo — e primeiro com temática infantil — do escritor peruano Mario Vargas Llosa.

— O livro é pequeno, sem muitas cenas. Partimos dele para criar outras histórias — conta Sanábio, que interpreta o protagonista, Fonchito. — Me identifico com o personagem porque também sou muito apaixonado por tudo — complementa.

Como resume o dramaturgo Pedro Brício, “é uma história de vencer obstáculos e de conseguir o que parecia ser impossível. De resolver, criativamente, as coisas”.

O pano de fundo da historinha de amor é a cidade de Lima, no Peru, onde o céu é quase sempre nublado, o que torna a missão do pequeno Fonchito ainda mais difícil.

— Queremos mostrar um pouco mais da América Latina. Antes de a peça começar, o público se depara com essa cultura, sua música, sua comida e toda a ambientação criada pelo (estilista) Ronaldo Fraga especialmente para a montagem — explica Pablo.

O espanhol também está presente em cena, em um poema de Pablo Neruda e na passagem em que Fonchito diz ter um cajón (instrumento de percussão) no peito, referindo-se ao seu coração.

Segundo o diretor Daniel Herz, o espetáculo atinge a toda a família, por ser repleto de singularidades e despertar uma identificação imediata e universal.

— O sonho impossível nos acompanha sempre, mesmo quando adultos — conclui. (Patricia Espinoza)

Adélia Prado no Fórum das Letrinhas


Livro Carmela Vai à Escola, texto de Adélia Prado e ilustrações de Elizabeth Teixeira, Ed. Galerinha Record
Depois de uma sucessão de obras consagradas, em 2006 Adélia lançou seu primeiro livro infantil “Quando eu era pequena” e em 2011 “Carmela vai à escola”, que foi o destaque na programação de hoje no Fórum das Letrinhas.


LIVRO DAS PERGUNTAS - Pablo Neruda

Onde a lua cheia deixou
o seu saco noturno de farinha?


Se já estou morto e não sei,
a quem devo perguntar as horas?

Me diga, a rosa está nua

ou tem apenas esse vestido?

Há alguma coisa mais triste no mundo

que um trem imóvel na chuva?


A fumaça fala com as nuvens?


Por que se suicidam as folhas

quando se sentem amarelas?

Quantas abelhas tem o dia?


E é paz a paz da pomba?

O leopardo faz a guerra?


Quantas perguntas tem um gato?


Onde estão aqueles nomes
doces
como as tortas de antigamente?


Para onde foram as Donanas,

as Felisbertas, as Bizuzas?

Para quem sorri o arroz

com infinitos dentes brancos?


Como a laranjeira e as laranjas

dividem o sol entre si?

Quem gritou de alegria

quando nasceu a cor azul?

Como ganhou sua liberdade

a bicicleta abandonada?

É verdade que no formigueiro

os sonhos são obrigatórios?

Já percebeste que o Outono

é como uma vaca amarela?

Quem canta no fundo da água

na lagoa abandonada?

De que ri a melancia

quando a estão assassinando?

Posso perguntar ao meu livro

se é verdade que o escrevi?

Então não era verdade

que Deus vivia na lua?

Quando o preso pensa na luz,

é a mesma que te ilumina?

Por que vivem em farrapos

todos os bichos-da-seda?

Onde encontrar uma sineta

que soe dentro de teus sonhos?


A quem posso perguntar

que vim fazer neste mundo?

Há coisa mais boba na vida

que chamar-se Pablo Neruda?

Acompanhe
O GATO MALHADO E A ANDORINHA SINHÁ




O temperamento do Gato Malhado não era nada bom: bastava aparecer no parque para todos fugirem às pressas. E ele não se importava mesmo com os outros, ia tocando a vida com a indiferença habitual. Até que, chegada certa primavera, o Gato nota que a Andorinha Sinhá não tem receio algum dele.
Foi o suficiente para que dali nascesse a amizade dos dois, que se aprofunda com o tempo. No outono, os bichos já viam o Gato com outros olhos, achando que talvez ele não fosse tão ruim e perigoso, uma vez que passara toda a primavera e o verão sem aprontar. Durante esse tempo, até soneto o Gato escreveu. E confessou à Andorinha: "Se eu não fosse um gato, te pediria para casares comigo". Mas o amor entre os dois é proibido, não só porque o Gato é visto com desconfiança, mas também porque a Andorinha está prometida ao Rouxinol.
Jorge Amado colheu a história desse amor impossível de uma trova do poeta Estêvão da Escuna, que a costumava recitar no Mercado das Sete Portas, em Salvador, e a colocou no papel com o tom fabular dos contos infanto-juvenis em 1948, quando vivia em Paris. Não era uma história para ser publicada em livro, mas um presente para o filho, João Jorge, que completava um ano de idade. Guardado entre as coisas do menino, o texto só foi reencontrado em 1976. João Jorge entregou então a narrativa a Carybé, que ilustrou as páginas datilografadas. Jorge Amado deu-se por vencido: o livro foi publicado no mesmo ano.
O texto foi adaptado mais tarde para teatro e balé. Esta nova edição preserva as ilustrações magníficas de Carybé, que foram inseridas em novo projeto gráfico de Kiko Farkas. A escritora Tatiana Belinky, grande fã de Jorge Amado assim como deste livro, foi convidada para escrever o posfácio.


O BICHO ALFABETO






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O bicho alfabeto tem vinte e três patas, ou quase. Por onde ele passa, nascem palavras e frases. Só que quando ele encontra o Paulo Leminski, das palavras nascem versos e poemas, que falam sobre o mar, o vento, a chuva, uma estrela, uma pedra, um cachorro, um sapo, uma formiga. Coisas que todo mundo conhece do dia a dia, mas que podem se transformar em outras quando entram na poesia do Leminski.
Selecionados a partir do livro Toda poesia e com ilustrações de Ziraldo, os vinte e seis poemas de O bicho alfabeto convidam o pequeno leitor a um passeio surpreendente pela natureza, pelo humor e pela linguagem. E quem decidir se aventurar por essas páginas nunca mais vai ver o mundo do mesmo jeito

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