A brincadeira ensina, sim.
A especialista Claudia Costin diz que a nova base curricular para crianças de zero a 6 anos avança ao propor uso produtivo do tempo na escola
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20 dez 2017, 21h28 more_horiz
O americano James Heckman, prêmio Nobel de Economia, foi o
primeiro a calcular em que medida investir em crianças pequenas tem um
efeito para elas e para o país em que vivem. Concluiu que um bom
empurrão dado desde muito cedo produz adultos com chances
exponencialmente maiores de prosperar. Por isso é tão bem vinda a
iniciativa brasileira de elaborar uma Base Nacional Comum Curricular
para a educação infantil, homologada pelo Ministério da Educação nesta
quarta-feira (20), com o objetivo de demarcar metas para o aprendizado.
Nesta etapa, a ciência de ensinar costuma ceder lugar a atividades
guiadas por pura e simples intuição.
A base curricular é um ponto de partida. Seu sucesso dependerá de
como estados e municípios converterão a letra fria em bons currículos
para creches e pré-escolas. A especialista Claudia Costin, diretora do
Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação
Getúlio Vargas, se debruçou sobre o texto recém-aprovado, que será
implantado a partir de 2019. Ela faz a VEJA sua avaliação do documento.
Mesmo com críticas pontuais, a base curricular do ensino infantil foi celebrada pela maioria dos educadores. Há motivos?
Sem dúvida. Antes de tudo porque a base ajuda a romper uma ideia antiga
de que educação infantil é sinônimo de livre brincar. Já existe hoje
conhecimento acumulado sobre como fazer das atividades na creche ou na
pré-escola algo que conduza a criança em suas primeiras descobertas. A
brincadeira com intenção pedagógica é o que faz diferença.
Não há certo exagero nisso? Não, desde que não se
incorra no equívoco oposto, de expor a criança a um excesso de conteúdos
não condizente com a sua idade e à pressão desnecessária.
O documento do MEC flerta com o excesso? Não. Ele vai direto ao ponto: mesmo as atividades para crianças pequenas precisam ser planejadas pelo professor.
E normalmente não são? Muitas vezes, não. Há um medo bobo de que qualquer iniciativa nesta linha vá comprometer a brincadeira.
O que deve se esperar que aprendam nesta fase da vida?
O valor dos livros, por exemplo. Existem evidências de que a exposição
sistemática a um ambiente de estímulo à leitura ajuda a sedimentar a
ideia de que eles são importantes, interessantes, cheios de histórias.
Isso contribui para formar futuros leitores, além de expandir o
vocabulário. E, como se sabe, o domínio das palavras é crucial para
aprender em qualquer área.
A tão temida matemática também já deve ser apresentada nesses primeiros anos?
Sim, até para ser menos temida. Estamos falando de noções elementares,
como tamanho e quantidade, coisa que a base do MEC contempla. O
desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como persistência e
trabalho em grupo, também estão lá. Não dá mais para imaginar uma escola
que não preste atenção a elas.
E o que a base deixou de contemplar? Acho que faltou
dizer com todas as letras que a criança precisa conhecer o alfabeto na
pré-escola. Não é saber ler, mas sim se familiarizar com o código. Ela
não vai chegar a ele sozinha.
Como os pais podem fazer bom uso do documento do MEC? Eles devem lê-lo com atenção para saber o que cobrar da escola e como dar o apoio em casa. Agora têm uma bússola.
Fonte: https://www.facebook.com/institutoveracruz.oficial/
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