domingo, 1 de julho de 2012

O que fazer com os bebês?

Um relato sobre o trabalho com bebês. Questões que indagam nossas práticas, nossa rotina, nossos saberes.
Trabalhar com bebês requer conhecimento, estudo, constantes reflexões e muita pesquisa.
O trabalho com os bebês é um desafio para nós educadoras da infância. O que fazer com eles? Que trabalho “pedagógico” pode ser desenvolvido com crianças tão pequenas?
Acredito que o maior desafio de trabalhar com os pequenos está em redefinir o papel de professora. Quando pensamos em professor, pensamos em escola, e pensar em escola, muitas vezes, traz a ideia de dar aulas, apresentar conteúdos temáticos, solicitar registros sistematizado dos alunos. E muitos se perguntam: como fazer isso com bebês?
No livro, Educação Infantil: Saberes e Fazeres na Formação de Professores, organizado por Luciana Ostetto, alunas do curso de pedagogia da Universidade Federal de Santa Catarina se perguntaram isso e descrevem suas práticas de estágio em um berçário de uma instituição de educação infantil. Em um texto belíssimo, intitulado: “Como ser professora de bebês”, Andressa Celis Souza e Vanilda Weiss descrevem como foi “encarar” a ideia de que a elas ficou destinado estagiar no berçário. As angústias, dificuldades, prazeres e descobertas são relatados ali de uma forma muito verdadeira e aberta.
No texto, elas contam que a primeira “atividade” oferecida às crianças de 8 meses a dois anos foi pintar, com tinta, flores previamente recortadas por elas para enfeitar a instituição por ocasião da primavera. As crianças se interessaram muito mais pela experiência de sentir a tinta, tocar, esparramar, do que pela realização da comanda dada pelas educadoras. Essa experiência possibilitou que as estagiárias percebessem que outro encaminhamento era necessário. Assim, em um segundo momento ofereceram novamente a tinta as crianças, mas dessa vez em uma exploração muito mais livre e cheia de sentidos.
Explorar diferentes tipos de texturas, tintas, ouvir histórias, músicas, brincos e acalantos são algumas possibilidades interessantes a serem oferecidas aos bebês, mas o modo de conduzi-las exige que nós, educadores da infância, nos despreendamos do caráter rígido e instrucional que está por trás do nosso imaginário de escola.
Outro ponto que gostaria de ressaltar nessa reflexão é o aprendizado relativo ao cuidado de si, tão importante nessa faixa etária.
No livro, Educar os três primeiros anos: a experiência de Loczy, organizado por Judith Falk, no capítulo initulado: "A participação da criança no cuidado de seu corpo”, escrito por Katalin Hevesi, há exemplos de práticas que demonstram o quanto uma troca de fraldas/ roupa pode gerar diferentes aprendizados dependendo da maneira como é conduzida.
Em um dos exemplos, Katalin cita uma educadora que ao fazer essa troca, entrega um objeto para a criança se distrair para que essa atividade seja mais rápida. Mas, ao pedir que a criança colabore com a troca em alguns momentos, a educadora acaba tendo dificuldades e sendo autoritária na solicitação à criança. Neste exemplo, cita a autora, a criança é tratada como objeto e é somente considerada quando a educadora precisa de sua ajuda.
Em contrapartida, outra prática é citada. Nela, outra educadora, desde o início da troca estabelece uma intensa relação com a criança conversando sempre com ela, informando o que está fazendo. Essa educadora solicita sua colaboração e espera pacientemente que ela responda a essa solicitação. Pode parecer uma atitude simples, mas é cheia de significados. A segunda educadora considera a criança e a trata como sujeito nessa relação e sua atitude faz com que a criança perceba isso.
Na mesma linha, o vídeo “Jardim da Infância Nokken”, que trata de uma escola em Copenhagen na Dinamarca, baseada nos princípios da Pedagogia Waldorf, demonstra uma relação muito bem estabelecida entre o cuidar e educar nas mínimas ações das professoras. São atitudes que vão propiciando que as crianças se desafiem, mas com a segurança de quem tem um educador que as cuida (no sentido de as apoiar e possibilitar que elas tenham contato com diferentes experiências). Fica o convite para que assistam.
Finalizando, trabalhar com os bebês exige sensibilidade, mas também muito conhecimento: conhecimento das possibilidades de trabalho com eles, conhecimento do desenvolvimento infantil e principalmente conhecimento de como conhecer melhor cada um deles para podermos desafiá-los e promover melhores aprendizados.

Uma imagem para refletir:
Postado por: http://pedagogiacomainfancia.blogspot.com.br/search?updated-min=2010-01-01T00:00:00-02:00&updated-max=2011-01-01T00:00:00-02:00&max-results=48
Link para o texto de Alessandra Celis e Vanilda Weiss: http://books.google.com.br/books?id=NPtZaXzQstgC&pg=PA33&lpg=PA33&dq=aprendendo+a+ser+professora+de+beb%C3%AAs&source=bl&ots=vJcJrgo24E&sig=McHC7lvaYycLvFz_jjieMrisNAU&hl=pt-BR&ei=FkDLTIDGD5KinQfK7MDYDw&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=7&ved=0CDYQ6AEwBg#v=onepage&q=aprendendo%20a%20ser%20professora%20de%20beb%C3%AAs&f=false

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