domingo, 9 de abril de 2017

A importância do planejamento na atuação do professor de Educação Infantil



Planejar para aprender. 
Aprender para  planejar.
Beatriz Ferraz
Frente ao desafio de escrever um artigo sobre o planejamento na Educação Infantil, me vi inquieta buscando uma forma de introduzir este tema de maneira agradável e com a devida valorização que merece. Poderia iniciar escrevendo sobre a importância do planejamento na ação do educador, mas achei que não seria uma boa alternativa já que esta é uma afirmação tão conhecida.
Por onde começar? Começo, então, por um registro de uma educadora que relata a contribuição que a prática de planejar trouxe para a sua ação educativa junto às crianças.
“Trabalho com uma turma de crianças de 4 anos e pretendia realizar com elas um estudo sobre peixes. O exercício de planejar a atividade que despertaria nas crianças o interesse pelo tema foi de fundamental importância para que eu pudesse rever tudo o que estava imaginando fazer. A primeira atividade representaria o grande disparador para o trabalho que faríamos.
Senti uma profunda necessidade de pensar como o projeto deveria ser realizado. Então sentei e escrevi um planejamento:
Nome da atividade:
Quais os peixes que queremos estudar.
Contexto da atividade: Conversa para iniciar um estudo com as crianças sobre alguns peixes.
Objetivo da atividade (o que quero que as crianças aprendam):
- Escolher os peixes que gostariam de estudar;
- Levantar algumas perguntas que gostariam de ver respondidas sobre os peixes escolhidos;
- Indicar alguns materiais que poderíamos usar para buscar informações.
Conteúdo da atividade (o que preciso ensinar):
- Elaboração de perguntas;
- Fontes de informação;
- Nome de alguns peixes.
Encaminhamento da atividade (como desenvolver a atividade com as crianças):
Levar para a roda alguns livros com imagens de peixes.
Perguntar às crianças quais peixes conhecem e, desses, quais gostariam de estudar. Listar em uma folha os peixes sugeridos pelas crianças e, se for o caso, fazer uma votação para escolhermos alguns.
Perguntar a elas o que gostariam de saber sobre estes animais. E, por fim, perguntar às crianças onde poderíamos encontrar informações para responder as perguntas. Estava muito satisfeita com o meu planejamento! A minha surpresa foi quando iniciamos o projeto e as coisas não saíram como o esperado!
Quando mostrei os livros para elas e perguntei quais peixes elas queriam estudar, apontavam aleatoriamente as imagens de peixes dos livros. Sendo assim, iam virando as páginas e dizendo que queriam saber sobre todos eles! Além disso, quando perguntei o que queriam saber, me disseram coisas como “Quantos olhos eles têm? Ele tem boca?...”. E ainda para finalizar, quando perguntei sobre onde encontro as informações, me disseram que poderia ser nestes livros mesmo que eu havia levado. Fiquei super frustrada!
Senti que as crianças não se envolveram, que não se comprometeram com a minha proposta e que estavam respondendo às minhas perguntas sem muita consideração, esperando que aquela atividade acabasse logo e que pudessem ir brincar. Depois de muito lamentar, tomei uma decisão: voltar ao meu planejamento e pensar o que tinha de errado para produzir tal desastre!
Foi justamente nesta retomada que me dei conta de algumas coisas:
1. Se pretendia fazer uma atividade que despertasse o interesse, era importante que o foco dela estivesse em uma motivação. Sendo assim, não poderia ter como objetivo que as crianças aceitassem prontamente a minha proposta e a partir daí respondessem a todas as minhas solicitações. Pude perceber que no planejamento não estava considerando as características do pensamento infantil e, portanto, não havia conseguido fazer uma boa condução da atividade de modo que ficassem interessadas na minha proposta.
2. Também pude me dar conta de que para que as crianças pudessem formular boas perguntas que justificassem uma busca de informações em diferentes fontes era importante que elas pudessem primeiro saber algo sobre os peixes e a partir deste conhecimento poderiam levantar suposições ou mesmo comparações entre as informações que tinham gerado o interesse por novos conhecimentos. As perguntas que as crianças fizeram podiam ser respondidas com uma simples observação das imagens dos livros e este era um equívoco meu de não considerar que eu precisava ajudá-las a formular questões e, para isso, precisaria fazer alguma atividade que as ajudassem nesta tarefa.
Com estas constatações fui buscar ajuda das minhas colegas de trabalho e de minha diretora para pensar em outra atividade que pudesse gerar melhores resultados. A partir das sugestões que recebi, passei um vídeo que falava sobre o fundo do mar apresentando alguns peixes e algumas informações sobre eles. As crianças adoraram e ficaram completamente envolvidas com as imagens e as informações que receberam. Quando terminamos de assistir, tinham muita clareza dos peixes que queriam pesquisar e tinham perguntas muito interessantes, que puderam conceber a partir daquilo que viram e ouviram.
Perguntaram coisas como:
“Porque o peixe espada tem este nome?”; “Quantas pernas tem o polvo?”, “Por que tem peixe que come peixe? Os peixes ficam grávidos?” Agora sim, tínhamos perguntas que precisavam de uma pesquisa para serem respondidas.
Fiquei muito contente com o novo rumo que tomou meu trabalho com as crianças. Sei que foi graças ao planejamento feito e depois reelaborado que pude aprender coisas tão importantes sobre a relação ensino-aprendizagem e principalmente, sobre as boas ações do educador que favorecem aprendizagens significativas às crianças!”
A reflexão desta educadora sobre o uso do planejamento como um instrumento que nos ajuda a adequar melhor nossas ações e com isto propiciar uma aprendizagem de qualidade às crianças nos traz muitas informações sobre o quê significa planejar, paraque planejar e como planejar.

Também aprendemos que o planejamento favorece a reflexão sobre a prática educativa

A primeira questão que podemos aprender com ela é que o planejamento precisa fazer sentido para o professor, pois ele é um instrumento que visa ajudar e facilitar a sua prática. Ao planejar, antecipamos uma série de acontecimentos que podem ocorrer na ação e nos preparamos para lidar com eles, diminuindo assim a quantidade de imprevistos e tornando as nossas ações mais precisas e de melhor qualidade.
Também aprendemos que o planejamento favorece a reflexão sobre a prática educativa e, dessa forma, funciona também como um instrumento de aprendizagem. Quando planejamos, tomamos uma série de decisões e fazemos uma série de relações entre conhecimentos teóricos/científicos e conhecimentos práticos de nossa experiência pessoal e profissional. Vejamos alguns exemplos:
A frase inicial do item 1 deve ser mantida pois ela explicita bem a idéia que a autora quer marcar.
1. A partir do plano curricular da instituição, que ajuda o professor a guiar sua prática com as crianças, ele escolhe, durante o planejamento, quais as melhores estratégias para colocar em ação cada um dos conteúdos que pretende ensinar.
2. Ao realizar o exercício de pensar sobre as estratégias e os conteúdos de ensino, o professor precisa pensar sobre quem é a criança com a qual trabalha, quais são as suas necessidades, seus interesses, suas motivações.
A partir desta reflexão terá maior clareza em seu planejamento para decidir o encaminhamento da atividade.
3. Ao considerar como irá conduzir uma atividade e quais os conhecimentos que pretende ensinar, exercício propiciado pelo planejamento, o professor também tem que compreender como se ensinam os diferentes conteúdos.
Para cada um deles, ou para cada bloco deles, há estratégias que se adequam melhor. Com isto, aprende mais sobre como ensinar, pois pode generalizar o que aprende com a atividade planejada para outras situações que vivencia diariamente na instituição. Por fim, podemos também aprender com o exemplo desta educadora sobre como analisamos e como aprendemos com o planejamento. Quando o professor escolhe uma atividade para realizar com as crianças tem que ter clareza de suas intenções com ela para que possa adequar suas ações e alcançar os objetivos propostos. Sendo assim, ao conceber um planejamento é importante destacar:
1. O que eu quero com esta atividade.
2. O que eu quero que as crianças aprendam com esta atividade.
3. O que eu preciso ensinar para que as crianças aprendam.
4. Como eu devo desenvolver a atividade (incluindo antecipar ações e falas, os materiais que pretendo utilizar e a organização do espaço), para que as crianças construam os saberes propostos.
Todos os itens que fazem parte do planejamento devem ter coerência entre si. Ou seja, depois de planejar, posso voltar ao que escrevi e questionar: Com isto que direi às crianças estou ajudando elas a aprenderem aquilo que espero? Tomando o exemplo da educadora acima, se quero que as crianças formulem boas questões para iniciar uma pesquisa, será que a melhor alternativa é começar pelas perguntas?
Com tantas possibilidades de reflexão, de construção de conhecimento sobre a prática, não há como negar a importância do planejamento na atuação do professor de Educação Infantil. Não é mesmo? 

* Beatriz Ferraz já foi dona de escola de Educação Infantil e criou o centro de estudos Escola de Educadores, em São Paulo. Trabalhou com o Projeto Didática, Informação, Cultura e Arte, de formação continuada, em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo (nos últimos três, atuando como coordenadora). Em sua tese de doutorado, estuda o conhecimento profissional de educadoras de creche com o objetivo de compreender o que aconteceu quando o foco mudou do bem-estar para a Educação.
Heloisa Pedroza Lima 💕💕💕

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