O bebê também precisa brincar sozinho
Nadja Azevedo
Fisioterapeuta/ Psicomotricista
Equipe Una Primeira Infância
Os bebês encantam
as pessoas. O cheirinho, o sorriso, o olhar. É irresistível! Ele é sedutor e
retribui com um sorriso, como se estivesse dizendo: “Fique comigo! Me pegue!
Não me abandone...”.
Este relacionamento
mutuo é muito importante para o desenvolvimento do bebê, pois essa troca de
olhares e sorrisos é o que convida o bebê para se interessar pelo mundo e
conhecer a si mesmo. Um bebê precisa se sentir protegido e amado, desfrutar de
muito carinho e afeto e construir relações estáveis com pessoas em um ambiente
seguro, repleto de amor e dedicação.
Mas o bebê precisa também de um tempinho só para
ele. Um tempinho para se auto conhecer e tentar entender as coisas que
acontecem ao seu redor. Tempo para analisar a luz do quarto que acende e apaga,
para descobrir sua mãozinha que vira e mexe passa em frente de seus olhos,
morder o pé, para se apropriar dos sons ao redor e das pessoas que
constantemente estão com ele. Ele se diverte e se ocupa com brinquedos que nem
são brinquedos. O bebê tem sua curiosidade natural e desta forma é capaz de
ocupar-se seguindo seu próprio interesse. Mas ele precisa de oportunidade para
desenvolver esta capacidade de ocupar-se. Ele precisa de tempo e tranquilidade,
espaço e liberdade de movimento...
Se pararmos para observar as atividades do bebê
sem interferir, podemos observar um espetacular processo de aprendizagem. Ele
tenta realizar uma experiência, analisa o resultado, repete para ver se obtém o
mesmo resultado... Ele aprende a aprender imperceptivelmente, incorporando nas
suas experiências suas percepções e as características dos objetos com os quais
ele se habituou, criando desta forma uma capacidade de construção de
pensamentos lógicos e dedutivos. E quando isto acontece, o bebe passa a
realizar suas próprias ações, conquistando independência e autonomia para criar
suas hipóteses. Este é o inicio da curiosidade humana e do comportamento
questionador manifestando nos bebês.
Porém, muitas vezes o adulto acaba interferindo
em relação a qual brinquedo o bebê se interessa ou o que ele faz com este
brinquedo, “ensinando o jeito certo de brincar”. Ao oferecer o “conhecimento
digerido” o adulto interrompe o processo de formação do raciocínio do bebê, não
dando tempo para a descoberta. A inteligência do adulto não substitui a
atividade própria da criança, na qual a construção de hipóteses é tão
importante quanto o resultado. Por exemplo, explorar um pote antes de saber sua
função pode trazer outras perspectivas e descobertas: pode vir a ser um chapéu,
um tambor... Sem perceber estamos ensinando nossa lógica já aprendida para o
bebê que está aprendendo a descobrir como as coisas acontecem, impedindo este
processo de exploração, questionamento e aprendizagem. É importante que o bebê
participe mais, escolha, e tenha tempo para encantar-se com as coisas.
O bebê é um cientista nato e precisa fazer
experiências próprias para descobrir o mundo... um bebê que tem a oportunidade
de explorar os objetos, cores, texturas, sons, cheiros, com tempo e o espaço
necessário para experimentá-los, está trilhando o caminho para ser uma criança
curiosa, que pensa e inventa, com a oportunidade criar de associações, observar
detalhes e perspectivas que nuca imaginaríamos...
E o adulto? O adulto é seu parceiro nesta
descoberta. Aquele que constrói o ambiente com diversas oportunidades e valida
suas experiências e seu desejo de fazer. Sendo assim, na hora de brincar com o
seu pequeno, dê um passo para trás! Faz parte do amor e investimento na
infância deixar o pequeno “se virar”. Dê tempo e oportunidade para que seu
filho experimente, questione, analise e crie seu jeito particular de perceber o
mundo!
Nadja Azevedo
Fisioterapeuta/
Equipe Una Primeira Infância
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