Cultivando habilidades
desde o nascimento: a importância da estimulação precoce para o desenvolvimento
cognitivo
A impressão que muita gente tem
ao interagir com bebês é que eles não têm muitas funções além de comer e
dormir. De fato, a principal atividade dos bebês recém-nascidos é
dormir, mas isso não é sinônimo de falta de atividade. Na verdade, não
há nenhum outro momento da vida em que crescemos e aprendemos tanto
quanto nos três primeiros anos de vida.
Desde o começo da vida, os bebês moldam
seu comportamento de acordo com a interação com o ambiente. No início,
muitos comportamentos são reflexos – como o reflexo de sucção e o
reflexo de apreensão -, mas o rápido desenvolvimento do encéfalo em
conjunto com a exposição a estímulos constantes contribui cada vez mais
para o surgimento de comportamentos mais controlados. Mesmo antes do
nascimento, os bebês já são capazes de integrar diversas modalidades
sensoriais.
O desenvolvimento inicial do cérebro e
certos padrões de desenvolvimento são geneticamente orientados. Por
exemplo, o desenvolvimento da linguagem segue certos padrões comuns em
todas as culturas, começando pelas vocalizações iniciais, com arrulhos,
balbucios, etc., até o uso de palavras com significado, seguido do uso
de frases e aumento da complexidade da fala. Isso provavelmente se deve
ao fato de que estes padrões de comportamento são tão importantes para a
sobrevivência que foram selecionados na nossa história evolutiva.
Apesar deste importante componente genético, o cérebro é constantemente
modificado pela nossa interação com o ambiente, aspecto que denominamos
como plasticidade neuronal. Dessa forma, as
experiências de vida na primeira infância podem ter efeitos duradouros e
determinantes para a capacidade de aprendizagem ao longo da vida.
Neste sentido, o investimento em
estimulação cognitiva na primeira infância se mostra de extrema
utilidade, uma vez que este período é extremamente sensível à
manipulação ambiental. Por exemplo, em um estudo com crianças romenas
órfãs que, ainda bebês, tinham sido privadas de estímulos cognitivos,
contato social, cuidados interpessoais e alimentação, observaram-se
atrasos importantes no desenvolvimento cognitivo, motor e da fala, além
de dificuldades comportamentais posteriormente. Outro estudo
com população similar demonstrou, entretanto, que quando as crianças
eram adotadas antes dos seis meses de vida não havia diferença
significativa na inteligência delas em comparação a um grupo controle,
conforme avaliação feita aos 11 anos de idade. No entanto, o mesmo
estudo revelou que quando as crianças eram adotadas após os seis meses
de idade, havia uma redução do coeficiente de inteligência em relação
aos controles.3 Isso ressalta como estímulos ambientais são
importantes nesta fase da vida, e como a intervenção precoce pode ser
determinante para a funcionalidade em longo prazo.
Como relatado, ao considerarmos uma
criança com desenvolvimento típico, já verificamos a relevância da
estimulação ambiental. Se para esses casos o investimento em estimulação
já é essencial, para crianças com atrasos no desenvolvimento ou
crianças de risco isso se torna mandatório. Crianças que apresentaram
baixo peso ao nascer, prematuras, que apresentem alguma síndrome
genética ou desenvolvimento atípico devem ser observadas com extremo
cuidado pelos profissionais de saúde.
A determinação de estratégias de estimulação mais intensas vai
depender de uma boa avaliação que identifique quais aspectos do
desenvolvimento e comportamentais estão alterados.
Referências:
Papalia, D. E., & Feldman, R. D. (2013). Desenvolvimento humano. Artmed Editora.
Ames, E. W. (1997). The Development of Romanian Orphanage Children Adopted to Canada. Ottawa: Human Resources Development Canadá.
Isabela Sallum Psicóloga e mestre em Medicina Molecular Integrante do Instituto Lumina Neurociências Aplicadas à Saúde Mental.
Fonte: http://www.pearsonclinical.com.br/blog/2018/neuropsicologia/cultivando-habilidades-desde-o-nascimento-importancia-da-estimulacao-precoce-para-o-desenvolvimento-cognitivo/
Texto adaptado por Heloisa Pedroza Lima
Texto adaptado por Heloisa Pedroza Lima
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