sábado, 11 de agosto de 2012

Cuidar e educar: um desafio para muitos professores


O Debate entre cuidar ou educar ainda é um dos grandes desafios da Educação infantil. O que ao meu ver é um debate falso, já que é impossível educar sem cuidar ou cuidar sem educar. Mas acho que devemos tentar entender porque ainda esses são conceitos vivenciados dicotomicamente.
Ainda hoje há uma evidente separação nas rotinas das crianças nas instituições de educação infantil entre momentos relacionados ao cuidado com o corpo e momentos considerados como “pedagógicos”, a chamada “hora da atividade”, ou seja, aqueles que mais se aproximam do conhecimento escolar sistematizado e, portanto mais valorizados pelos adultos na relação com as crianças.
Como afirmou Philippe Áries, os conceitos de escola e criança surgiram juntos. O sentimento de infância, ou seja a consciência da particularidade das crianças como diferentes dos adultos só surgiu quando a sociedade precisou criar a escola para prepará-las para mundo adulto. Assim essa concepção de criança escolarizada (com um modelo rígido de escola) parece ser ainda considerada por muitos educadores como a única possibilidade de compreender a infância na instituição.
Além disso, somos uma sociedade que historicamente viveu a escravidão e a separação entre trabalhos físicos e “intelectuais” e isso ainda está muito impregnado no nosso ideário. Nesse sentido, o corpo e os cuidados com ele são considerados algo menor, uma perda de tempo na instituição.
Se queremos partir de um outro referencial de educação, acredito que o próprio uso dos termos cuidar e educar separadamente pode reforçar essa dicotomia. Assim, por que não utilizar a expressão: práticas educativas cuidadosas, uma vez que essa expressão parte da ideia de cuidar em uma perspectiva mais ampla? Cuidar entendido como estar atento as necessidades, desejos e inquietações das crianças em todas as suas dimensões, incluindo a dimensão dos cuidados físicos, como alimentar, banhar e escovar os dentes.
Me referenciando no texto: Práticas Cotidianas para a Educação Infantil, organizado pela Prof. Maria Carmem Barbosa, que levanta essa questão, acredito que precisamos pensar o currículo da educação infantil focado na criança e em suas relações com outras crianças, com os adultos e com o mundo, o que envolve a participação dos pequenos nos cuidados físicos, na contação de histórias, no cantar, no garatujar, nas brincadeiras, ou seja em todos os momentos em que eles estão na instituição, sem hierarquização ou rígidas fragmentações, pois todos esses momentos fazem parte da pedagogia da infância e produzem conhecimentos importantes.

Nenhum comentário: