domingo, 9 de setembro de 2012

Simpósio Mundial da OMEP

28. Simpósio Mundial da OMEP - O Brincar nos tempos e espaços da Educação Infantil - Maria Carmen Barbosa


Oi Pessoal!

Divulgo hoje a palestra da Prof. Maria Carmen Barbosa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul sobre o brincar no 28. Simpósio Internacional da OMEP.
Durante sua fala, Maria Carmen nos incita o tempo todo a pensar profundamente sobre o brincar e o nosso papel como educadoras e educadores da infância.
Sua fala se iniciou com uma pergunta: É preciso brincar na escola de Educação Infantil?
Para responder, a pesquisadora e professora dividiu sua fala em quatro pontos. São eles: A- Brincar é a capacidade de inventar mundo; B- brincar não é ato natural, mas uma aprendizagem cultural; C- Para brincar é preciso um lugar para fazer brincadeiras, tempo para inventá-la, vivenciá-la, materiais "ricos" e, de preferência muitos companheiros; D- Brincar não se contrapõe a aprender, mas é relacionar-se com o mundo do conhecimento e aprender de modo significativo.

A - Brincar é a capacidade de inventar mundo
Brincar está presente na nossa vida diária. Passamos oito horas dormindo e sonhando. Ao longo do tempo acordado temos momentos de devaneios, fantasiamos, inventamos. Imaginar e fantasiar faz parte de ser humano. A possibilidade de desenvolvimento dessa capacidade é afetada pelo contexto e a cultura de cada um. Imaginar e fantasiar são formações mentais que gera capacidades em seres humanos. Capacidade de criação humana.
Através das brincadeiras as pessoas iniciam a construção de seus mundos imaginários.

B- Brincar não é ato natural, mas uma aprendizagem cultural
Todos nascemos com capacidade de interagir com o mundo que nos circunda. Temos capacidades de interação. Seres humanos são capazes de inventar, criar brincadeiras, criar regras. Mas a brincadeira é uma construção sócio- histórica, que precisa ser transmitida. Brincadeiras derivam muitas formas de lazer, recreação.
Durante muito tempo crianças e adultos brincaram juntos. Brincadeiras mudam de nome nosso lazer, coisas de gostamos são também fontes de prazer e fazer compartilhado. Brincadeiras persistem, as novelas são ligadas ao faz de conta. Temos que pensar sobre isso. Transformamos possibilidade biológica em realidade cultural.
Para as crianças pequenos atos dão inicio na formação do mundo simbólico. Elas internalizam aspirações do mundo em que vivem e fazem suas próprias relações. Ao brincar e imaginar constroem novos mundos e participam da cultura.
Mães e professoras introduzem elementos culturais. Brinquedos estão inseridos na cultura, adultos apresentam para as crianças seus primeiros brinquedos. Adultos apresentem aquilo que consideram mais significativo. Crianças imitam os modos de usar, mas a partir de suas combinações inventam novas brincadeiras.
Ao escolhermos formas, cores, tipos de brinquedo, não oferecemos apenas um objeto, mas sim um discurso simbólico. Esses brinquedos trazem narrativas. O que queremos oferecer as nossas crianças? Pergunta feita pelos adultos para escolher o quer disponibilizar as crianças.

C- Para brincar é preciso um lugar para fazer brincadeiras, tempo para inventá-la, vivenciá-la, materiais "ricos" e, de preferência muitos companheiros;
Durante muito tempo, o tempo e o espaço para brincadeira foi assegurado para as crianças. Vida na cidade tem dificuldade de garantir espaços para o brincar das crianças. Francesco Tonucci aponta que os espaços da cidade tem deixado as crianças solitárias. Há um empobrecimento da experiência da brincadeira. A experiência do brincar dos adultos precisam nos fazer resistir a isso. Criar espaços para as crianças se encontrarem e brincarem. As escolas de Educação Infantil precisam ampliar e atualizar suas funções educativas. Educação Infantil é lugar onde crianças de diferentes idades se encontram e tem tempo e espaço para brincar.
Diretrizes Curriculares Nacionais para a EI de 2009 reiteram a infância como período importante do desenvolvimento humano: aprender a conviver, a brincar, inventar e ser curioso, entre outros. Elementos significativos para nossa formação. Revelam uma mudança radical em relação a concepção de escola instruída pela sociedade no século XIX. Isso remete a uma mudança grande nos tempos, espaços das instituições, tornando os espaços que desafiem as crianças para o brincar.
Cozinha pode também ser um espaço para o brincar, parque não é para recreação, mas um espaço de brincadeira.
É preciso construir espaços de brincadeira, onde crianças possam ter contato com livros, experiências, etc. Isso exige uma outra forma de gestão da EI. Precisamos escutar mais os clássicos da EI, que foram esquecidos nos momentos em que as creches viraram escola. Que esses espaços sejam mais ricos, incitem a fantasia.
Crianças de 0 a 6 anos não precisam trabalhar disciplinarmente. Os professores precisam saber disso, como as crianças constroem números, sabem sobre a natureza, etc... Esse patrimônio chega, mas não precisa chegar como disciplina, como aula de. Com materiais ricos, natureza, boa biblioteca, trabalho com música, esse patrimônio esta garantido.
Mas além de espaços e objetos, é preciso fundamentalmente tempo para brincar. Ter meia hora de parque por dia ou deixar as crianças sozinhas, sem ofertas de brincadeiras, é garantir o direito a brincadeira?
É preciso tempo para brincar, um adulto que compartilhe, que saiba sobre o brincar. Professores são fundamentais para garantir uma cultura de brincar: apresentam novas brincadeiras, complexificam, outras vezes observam e vêem como as crianças prosseguem em seu brincar.
Cada criança pode apresentar na brincadeira seu modo singular de ver o mundo, percebe-se através das brincadeiras a diversidade de classes, gêneros, etc. Escola que favorece a brincadeira é inclusiva.

D- Brincar não se contrapõe a aprender, mas é relacionar-se com o mundo do conhecimento e aprender de modo significativo.
O pensamento não é apenas individual. Nossa capacidade de pensar tem relação com co-construções. Hoje na ciência pensamos em grupos de pesquisa, construção em dialogo. Brincar é um modo de aprender coletivo e compartilhado. Aquilo que fica é aquilo que socialmente e emocionalmente tem valor para nós. Brincar forma desconstruirmos a nos mesmos como seres humanos. Terapias tem usado a brincadeira como conexão com as crianças.
Brincadeiras mobilizam emoção, corpo, pensamento, tudo ao mesmo tempo. Crianças tomam iniciativas, criam narrativas, brincadeiras. Brincar cria perguntas e onde há perguntas há espaço para a construção do pensamento.
Difícil convencer as famílias que a brincadeira é importante. Nossa sociedade preza muito a informação.

Boaventura Souza santos, sociólogo português aponta: “o neoliberalismo é, antes de tudo, uma cultura de medo, de sofrimento e de morte para as grandes maiorias, se não se combater com eficácia, se não se lhe opuser uma cultura de esperança, de felicidade e de vida”.

Escola não pode reduzir a vida das crianças a realidade como ela é. O brincar e as narrativas são instrumentos políticos, são eles que possibilitam ao outro a gentileza, a delicadeza inegociável da vida. Precisamos viabilizar na escola o direito de viver, explorar, conhecer e transformar o mundo. Instituição da Educação Infantil com alegria, esperança e vida para todos.

Há a disposição natural dos seres humanos para brincar, mas se deixarmos crianças sozinhas espontaneamente, as brincadeiras serão empobrecidas. Nesse sentido, professores precisam ampliar repertórios. Nossa função é de ampliar mundos, enriquecer as brincadeiras. Brincadeiras é compreendida como deixar as crianças livres, mas organizar o currículo focado na brincadeira exige muito estudo e aprofundamento.

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