sábado, 25 de fevereiro de 2012

O trabalho com datas comemorativas na Educação Infantil.

Um currículo de Educação Infantil deve ser organizado pensando na criança como ser social, que pensa, interage, questiona, explora e constrói conhecimentos.
O trabalho com as datas comemorativas deve ser visto como um direito da criança em conhecer o significado de fatos de nossa cultura, de nossa história oportunizando a ampliação de conhecimentos do mundo social e cultural. Isso inclui conhecer e explorar a cultura de sua cidade, de seu bairro, as festas religiosas e regionais, os costumes e comemorações mais comuns do lugar onde vive e também entender melhor o que a mídia bombardeia em determinadas épocas do ano, não se esquecendo do respeito às questões religiosas afinal cada criança vem de uma família diferente que possui crença próprias e a escola pública é LAICA.
Muita coisa para as crianças? Não! Isso é trabalhar as datas comemorativas. É ampliar o universo cultural das crianças, é oportunizar o conhecimento.
Pensando assim, é preciso refletir sobre os coelhinhos, os símbolos de Páscoa, os índios e cocar colorido, as bandeirinhas e caipiras, as árvores de rolos de papel higiênico e os pinheirinhos de Natal.
Será que todos esses símbolos são compreendidos pelas crianças e fazem parte do seu dia-a-dia?
Será que estamos mesmo ampliando o repertório cultural de nossas crianças?
Para contribuir nessa reflexão deixo um bom texto.

DATAS COMEMORATIVAS

TRABALHAR OU NÃO TRABALHAR? EIS, A QUESTÃO!
Bete Godoy


Tenho recebido várias perguntas de educadores que visitam o blog relacionadas as datas comemorativas, as mais recorrente são: se elas devem ou não compor o currículo na educação infantil; como a família pode participar efetivamente indo muito além da situação de expectador das apresentações feitas pelas crianças e como este assunto é tratado no cotidiano da escola.
Diante dos contínuos questionamentos partilho como temos respeitado os valores culturais, religiosos, econômicos e éticos das crianças e suas famílias sem empobrecer o trabalho pedagógico. No início do ano quando escrevemos o plano de trabalho reservamos um momento para decidir e conversar sobre algumas especifidades dos conteúdos que trabalharemos, entre eles, as datas comemorativas.
As datas comemorativas estão sempre presentes em nossas reflexões porque estamos aprendendo a lidar com novas situações de aprendizagens para compor um currículo e ampliando os saberes já construídos. Avançamos muito mas, como todo ano recebemos novos professores retomamos avaliando os avanços e dificuldades no planejamento e desenvolvimento das nossas práticas.
Alguns anos atrás era comum ver nos painéis e espaços da escola produções realizadas por professores e na sua grande maioria de E.V.A, ou de origame, isso sem contar nos kits de festa que eram reaproveitados para recepcionar as crianças e famílias marcando a comemoração de uma data comemorativa.
Quem não se lembra de ver nos murais do pátio da escola o caipira, a fogueira ao meio e a caipirinha? Outra marcante é o coelhinho da páscoa com a cesta de ovos na mão. Natal, dia das mães, dia do livro, dia da árvore, dia do circo e por aí a fora.

Quando observamos os espaços e neste caso estou me referindo as paredes e murais da escola a luz de boas teorias percebemos o quanto eles revelam a nossa concepção sobre educação e desvela como cada educador traduz isso em sua prática pedagógica.

Partindo desta premissa algumas perguntas alimentaram a nossa discussão, reflexão e ação:
1-
Qual a relevância deste trabalho para o desenvolvimento infantil?
2-Como respeitar a diversidade cultural das crianças e famílias?
3-Quais as possibilidades de aprendizagem e vivência?
4-Como realizar um trabalho onde as crianças possam pensar, criar e conversar sobre este assunto sem tratá-lo como mera reprodução mercadológica?
5-Como as famílias poderão participar ampliando a cultura local, partilhando seus saberes e fortalecendo vínculos com a escola?

6-Como os dados coletados na pesquisa socioeconômica realizada todo inicio de ano pode contribuir para conhecermos a cultura local?
Durante essa tempestade de ideias muitas outras questões surgiram, mas, acredito serem estas as geradoras de outras boas perguntas. Cabe a cada unidade educacional problematizar a partir de seus saberes e fazeres. As primeiras ações foram marcadas pelo espanto e insegurança, sair da zona de conforto (do prático mesmo que inútil) para a construção significativa para a criança exige ousadia pedagógica.
No ano de 2008 depois de muita conversa e reflexão decidimos realizar o projeto: Mulheres que fazem a diferença.
A ideia surgiu pelo interesse em levar em consideração:


  • O número significativo de crianças que são cuidadas e educadas pela avó, tia ou pessoas sem grau de parentesco. Dados apontados na pesquisa socioeconomica no inicio do ano.
  • Se existe um dia especial para a mulher é porque situações de desigualdade e de discriminação estão presentes na sociedade.
  • Conhecer e valorizar a cultura local.
  • Aproveitar para trabalhar os conteúdos conceituais e procedimentais e em especial os atitudinais.
  • Dia da mulher, das mães e do trabalho em que eles se relacionam?
Depois de organizar todas estas ideais em uma proposta de trabalho começamos a traçar os primeiros passos para coleta de material que nos auxiliasse no estudo e na pesquisa durante a formação.
As próprias crianças e mães deram dicas de mulheres que conheciam no bairro ou na comunidade escolar consideradas importantes pelo trabalho ou no fazer que realizavam. Conhecemos a curandeira, a militante, a costureira, a cuidadora de animais e de pessoas, a mãe, a dançarina, a otimista, a mais idosa e etc. Convidamos todas para vir até a escola e contar sobre suas histórias, trabalhos e desejos. Algumas conversaram com as crianças e professores e outras só com os educadores da escola. Com este material editamos um vídeo que foi apresentado no desenrolar do projeto.
Quando a entrevistada era a mãe de uma criança da turma a folia e orgulho era geral. Selecionamos imagens de mulher trabalhando nas mais diversas funções e profissões que renderam muita pesquisa e conversa entre as crianças.
Um enorme painel foi construído como produto compartilhado de algumas turmas contendo fotos, imagens e palavras que marcaram o trabalho.

Também esteve presente a leitura de biografia de mulheres que se destacaram na história e que incentivou a escrita da biografia das mulheres que fazem a diferença em nossa comunidade construindo um ambiente alfabetizador significativo. O produto compartilhado/ produto final não foi o mesmo para todas as turmas.

As datas comemorativas estão presentes em todas as culturas não estou propondo exterminá-las do nosso cotidiano e não é esse o papel da escola. Porém, pautar o trabalho pedagógico só no desenvolvimento das mesmas não se justifica uma vez que temos tantos outros caminhos interessantes e pertinentes a infância que podem proporcionar as crianças o seu pleno desenvolvimento.

Lamentavelmente algumas instituições de ensino ainda realizam atividades de passatempo onde as crianças dedicam horas pintado um desenho estereotipado além cantar, copiar ou colar bolinhas de papel sobre uma folha mimeografada/xerocada sem contar a enorme produção em série de orelhas de coelho que na verdade só revelam os equívocos dos educadores, quanto o que são boas práticas pedagógicas.

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