domingo, 17 de junho de 2012

Falando sobre os bebês

OS REGISTROS DE UM BERÇÁRIO: ENCONTRANDO O “CONCRETO” DAS ATIVIDADES
Até agora, falei sobre a visão que a maioria dos profissionais tem a cerca do trabalho com bebês. Sempre o que lemos sobre essa turma é fruto de pesquisa de pessoas que não atuam diretamente com elas. Nas amostras de trabalhos das turmas de educação infantil, dificilmente se percebe o que é realizado nessas classes, ficando claro o que quer dizer Tristão (2005) quando se refere a prática invisível. Logo me pergunto, porque deixá-la invisível? Como deixar marcada práticas de sucesso na educação infantil, em especial na faixa etária de 0 a 2 anos?

O planejamento é o começo da ação do professor, é através dele que começa a ser tecida toda uma rede de aprendizagens (e não falo para o aluno, mas sim para o professor). Redin (2007), quando fala sobre o planejamento, nos deixa claro que não podemos pensar na educação como algo espontaneista, como se a criança aprendesse sozinha e nem podemos ter uma visão de ensino adultocêntrica, com ações determinantes no professor, logo nosso planejamento não pode recair nesses conceitos. Também não pode significar apenas o preenchimento de uma tabela ou listagem de atividades para todos os dias da semana. O planejamento deve ser, uma oportunidade para sonhar, para refletir, para pensar em ações prazerosas, para justificar nossas atitudes.

Ao planejarmos as diversas oportunidades de as crianças realizarem novas experiências levamos em conta,
[...] o que será experiência para cada uma delas? O que vai tocá-las? É importante para a criança ou é apenas uma atividade planejada pela professora sem levar em conta os interesses e os modos de pensar e agir dos pequenos? O que se planeja está pautado nos jeitos de ser e de se expressar
daquelas crianças? Respeita os seus tempos? A proposta tem a intenção de ampliar e enriquecer o repertório cultural, cinéstico, afetivo, relacional dos pequenos? (TRISTÃO, 2006, p. 52)

Na escola de minha atuação o planejamento é realizado uma vez por semana e faço-o juntamente com minha colega de turma. É claro que temos uma tabela para preencher (e professor vive sem ela?!), mas nossas ações começam a ser traçadas a partir do objetivo que pretendemos alcançar. No modelo de planejamento da minha escola o meu objetivo delimita o meu tema (que poderia ser um projeto) e de acordo com as atividades que proponho sou levada a pensar em que habilidades meus alunos irão desenvolver. Essa tabela foi criada (trabalho da supervisão escolar) para que os profissionais pensassem o que estavam desenvolvendo nos alunos, já que o planejamento por muito tempo foi apenas um copia e cola de atividades de revistas, sem comprometimento com as reais necessidades de cada criança inserida no nosso contexto escolar.
Sinto necessário esclarecer que não cumpro à risca esse planejamento. Utilizo ele apenas como um apoio, sempre tentando realizar as atividades que estão ali propostas, porém as faço de acordo com o “clima” da sala. Muitas das atividades descritas são materiais que confeccionamos e que ficam ao alcance das crianças, no ambiente da sala de aula, em constante exploração. Portanto, atividade é o que não falta para os pequenos. Vale lembrar que nos planejamentos não estão programadas as rotinas, como se para essa faixa etária esses momentos também não fossem de inteiro aprendizado. E quando recordo esse fato, ganho mais um puxão de orelha, e dessa vez da minha própria pessoa! Ora o que estou fazendo que não tenho pensado e escrito sobre essas ações?
Se refletimos antes da atuação, também julgo importante a reflexão após a jornada de convívio com os infantes. E nesse registro o professor não precisa só contemplar a chamada “atividade do dia”, mas também seus pensamentos, suas descobertas, suas dificuldades, ou seja, o que realmente foi marcante.
Enquanto professora de Berçário transformei em hábito a prática do escrita reflexiva, contemplando junto com ela a fundamentação teórica e também registro fotográfico, mas saliento que essa não foi uma fácil tarefa e tão pouco ela partiu de mim. Com uma supervisão e uma orientação escolar atentas às suas profissionais,, partiu delas a “norma de se registrar o dia”, após meses de exercício (e falo exercício mesmo), chegamos a um modelo de registro onde descrevemos o que realizamos com a turma durante a semana.
Para a escola de minha atuação “registrar deve efetivamente fazer parte da constituição do processo de reflexão e da organização das ações no cotidiano as instituições de educação infantil” (TRISTÃO, 2005, p. 54).
Antes de perceber as crianças da educação infantil, sempre ia com meu planejamento quase pronto, levando o que eu queria passar para eles, simplesmente “catava” algo diferente e levava para a sala. Nos registros fazia tópicos descrevendo o que havia acontecido durante o dia, no máximo escrevia como havia sido a recepção das crianças perante a atividade proposta, mas nunca a validade desta para elas. Assim, julgo a minha forma de registro atual como o resultado de um planejamento estruturado a partir do que as crianças me indicam (TRISTÃO, 2005, p. 54).
Abaixo, um dos meus registros semanais:
Durante nossos planejamentos conversamos um pouco sobre a evolução dos bebês dentro da sala do berçário e começamos a focar mais as atividades no trabalho motor, pois temos crianças que já engatinham e ficam em pé com apoio (Raul, João, Andrey), os que ficam sentados (Marina, Mariany
e Yasmin), os que ainda não sustentam o corpo, precisando assim de apoio na hora de sentar (Mateus, Talita, Nicole ePie tro).

Nessa semana, usamos muito os pneus para possibilitar o sentar principalmente para os bebês menores. Na verdade, eles logo cansam e começam a chorar, mas muitas vezes ficamos ao lado deles para que fiquem mais tempo em outra  posição que não deitados. Para colocar o Pietro no pneu é uma ginástica, pois ele enrijece as pernas e quase não entra no buraco, também não gosta de ficar de bruços no tapete de E.V.A., mas até que brinca no cinturão sonoro, tendo um grande prazer em mexer em todos os bichinhos, fazendo muito barulho! A Nicole também tem gostado de observar os brinquedos no cinturão e esse observar é tão rico que tivemos que fazer um cinturão num dos berços, já que na hora das refeições ela fica esperando sua vez para se alimentar e enquanto isso fica brincando muito faceira.

O Mateus e a Talita ficaram doentes durante a semana (estavam com febre e congestionados) e para não terem que sair de casa tão cedo, já que está muito frio, vão ficar na casa da avó na próxima semana.Também tivemos o começo da gincana junina e a nossa equipe (VERMELHA!!!) teve que desfilar para começar a pontuar. Levamos os bebês para a área coberta dentro de um dos berços que tinha roda. Todos estavam caracterizados com a cor da equipe (todos os pais adoraram! Bom sinal!), o Andrey veio até com um chapéu do Inter...Eles adoraram!

A Mariany continua em adaptação porque chora muito, principalmente quando vem à tarde, por isso mexemos no seu  horário, ficando das 10 h às 14 h, assim ela se alimenta e dorme aqui na escola. A mãe tentou fazer uma “pressão” para que ela ficasse mais tempo, mas eu salientei que ela só não
está adaptada ainda por causa do excesso de faltas, então ela deveria cuidar para não quebrar novamente esse processo. Vamos ver no que vai dar!!!
Vou ficando por aqui...
(Diário de campo, 12/05/08 à 16/05/08.)

Esse registro semanal é realizado antes de começar a planejar a próxima semana, então serve como um termômetro, medindo a validade do que vem acontecendo em sala. Igualmente, o registro é um momento de reflexão da minha práxis, o lugar onde justifico as minhas intenções e mostro que nada é feito por fazer, cada ação tem por trás uma intencionalidade pautada nos interesses de cada bebê.
Essa reflexão acaba por ser um exercício de olhar e escuta. Devemos fazê-los (escutar e olhar) para além dos hábitos do fazer e do pensar, não o habitual, vamos reaprender! Se as crianças estão descobrindo o que vamos registrar? O que podemos perceber? O que nos contagia e encanta nas pluralidades de nossas crianças?
Ainda do meu diário, retiro um registro que poderia simplesmente ter sido esquecido, mas que foi significado de busca e de construção de material:

Há algumas semanas ganhamos da professora Luíza uma caixa bem grande e tínhamos a ideia de fazer com ela um trenzinho, mas queríamos pinta-la antes, então deixamos ela em pé ao lado do armário na sala do soninho. Qual não foi a minha surpresa ao ver o João entrando na caixa e puxando as abinhas para ficar ali escondidinho. Logo depois se ergueu e ficou em pé dentro dela. Conversei com as gurias e pensamos em colocar essa caixa na sala de atividades para que os bebês pudessem entrar nela em pé e também fazerem jogos de esconde-esconde, além de experimentarem o conceito de espaço. A ideia foi aceita. Por enquanto somente o João faz uso desse recurso, e os outros ainda estão olhando com um ar meio desconfiado, mas aposto que logo vão estar interagindo junto.[...] (Diário de campo, 30/06/08 à 04/07/08)

Do mesmo modo Tristão (2005) também corrobora com a ideia de que o registro pode contribuir para as discussões com outras profissionais, tornando-se uma prática reflexiva da própria práxis, além disso, é uma maneira de contribuir não só para o planejamento das chamadas atividades, mas também no planejamento do tempo e do espaço que as crianças ocupam na escola.
Quando o professor reflete sua prática também percebe o aluno, conseguindo visualizar o seu desenvolvimento no decorrer do tempo em que ficam juntos, saber suas preferências, os motivos das suas atitudes, enfim entendê-los!

Fonte: http://queroumcolinhoeprimeirospassinhos.blogspot.com/2011_02_01_archive.html

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