O que podemos aprender com os
bebês
Quando adentramos o universo dos bebês (sejamos
pais, mães, cuidadoras ou professoras), somos convidados a nos
alfabetizar nas muitas outras formas de linguagem e expressão: gestos,
sensações e infinitos movimentos corporais. Por estarmos habituados à
linguagem oral, tendemos a pensar que os bebês não se comunicam. Mas
essa percepção já caiu por terra há algum tempo, desde as descobertas
recentes da neurociência, psicologia, pedagogia e outros campos do
conhecimento interessados pelo desenvolvimento humano.
Segundo o psicomotricista André Trindade, “o bebê
registra tudo o que acontece a seu redor e em seu interior por meio de
sensações, emoções e gestos. Antes de poder pensar o mundo, ele o sente
(…), utiliza-se das sensações de seu corpo no espaço, para conceber a si
e ao mundo que o rodeia”.
Balbucios, choros, risadas e um olhar
impressionantemente comunicativo. É possível estabelecer com os bebês um
diálogo cheio de comunicação, ainda que sem palavras. Entrar nessa
interação pode ser um mergulho e um rico aprendizado. Mas, para isso, é
preciso estar atento, aguçar os sentidos e estar disponível para abrir o
pensamento às sensações.
Estar entre os bebês é se deparar com uma outra forma
de estar no mundo e com a cisão que nos é imposta – como adultos – entre
corpo e mente, pensamento e sensação. Em tudo que fazem, os pequenos
estão de corpo presente. Eles são atentos a tudo e experimentam o mundo
de corpo inteiro. É assim que apreendem o mundo e se constituem.
De sentidos aguçados, quando pintam com tinta, por
exemplo, não se satisfazem apenas em pintar o papel. Vão além: o corpo
se transforma em tela. Para eles, interessa a sensação da tinta na pele.
Associando sensações e percepções, pouco a pouco, conceituam o mundo em
que vivem. Já observou bebês assistindo a uma peça de teatro? Quando
algo na cena os encanta, eles se mexem, pulam, fazem gestos, riem. É
possível ler em seus corpos um maravilhamento explícito.
Os bebês tudo olham, tocam, provam, cheiram. Observam,
movimentam-se o tempo todo, fazem caretas, choram, agarram um objeto.
Seguram o pé, colocam na boca e riem: quanta alegria e aprendizagem
traduz esse gesto. Percebem as mãos e passam muito tempo as observando,
fazendo movimentos suaves, miúdos. Contemplam: bebês são muito
contemplativos. E quanta poesia e delicadeza há nessa forma de
comunicação.
Talvez, para nos comunicar com os bebês, tenhamos que
nos tornar um pouco poetas e (re) aprender com eles essa forma de estar
no mundo.
“e os meus pensamentos são todos sensações
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer o fruto é saber-lhe o sentido”
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer o fruto é saber-lhe o sentido”
Fernando Pessoa
(Juliana Montoia de Lima)
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