Solidariedade
no mundo das letras
Stefânia Padilha*
“Há
muitos e muitos anos as letras moram numa floresta encantada muito linda. Essa
floresta fica lá em cima no céu, numa estrela muito brilhante que solta lindas
faíscas toda vez que uma criança resolve escrever.
Você nem
imagina a festa que é quando as crianças resolvem escrever. . .
Todas as
letras ficam saltitantes e torcendo para que a criança precise dela para
registrar seu desejo, seu pensamento. Sabe por quê?
Acontece
que, para sair da floresta encantada e chegar ao papel, as letras fazem uma
linda viagem. Elas escorregam pela cauda da estrela, dão deliciosos pulos nas
nuvens, que são super macias e gostosas de pular. Mas o melhor mesmo é
mergulhar nos sete rios do arco-íris. Cada rio é um suco mais delicioso que o
outro. Por fim, fazem um vôo flutuante para o papel.
Quando
escrevemos, as letras vivem uma super aventura. Mas enquanto não escrevemos,
cada letrinha fica na sua casinha descansando, desenhando, tocando, cantando.
Cada letra tem sua própria casa e decide como se distrair enquanto aguarda a
grande aventura de ajudar as crianças a escrever.
Em todas
as casas é possível observar uma grande alegria, apenas uma casinha vivia
sempre fechada. As demais letras reparavam naquele fato e começaram a ficar
muito curiosas:
– Quem
será que morava ali?
Todas
comentavam e ninguém jamais havia visto a moradora daquela casa. Será que ela
não viajava para ajudar as crianças a escrever? Como podia ser? Será que aquela
casa não era de uma letra e sim de um monstro? De uma bruxa? Que mistério!
A cada
dia as letras ficavam mais curiosas e resolveram investigar.
Chegaram
bem pertinho e escutaram só um gaguejo: – Q, Q, Q, Q, Q! QUE SUSTO!
Todas
correram assustadas para suas casas. Mas, no outro dia, lá estavam de novo
tentando decifrar aquele mistério. Resolveram bater na porta:
– Oh, de
casa!
Depois de
alguns minutos a porta se abriu suavemente e apareceu, sabem quem? A letra Q
Ela
estava toda encolhidinha e trêmula. As outras letras surpreenderam-se ao ver
que a moradora da casa era mesmo uma letra como elas, mas nunca havia saído de
casa, ninguém a conhecia. Curiosas, perguntaram por que ela não saía e sua casa
vivia fechada. Ainda muito amedrontada, a letra Q explicou
que morria de medo de um fantasma que rondava sua casa e uivava noite e dia
assim:
– Uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
A letra U, que escutava atenta, deu um pulinho de surpresa e disse:
– Espera
aí, companheira que baita confusão é essa? Não tem fantasma nenhum. Você está
muito enganada. Eu sou sua vizinha e quero virar cantora de ópera, assim eu
fico treinando e exercitando minha voz:
–
uuuuuuuuuuuuuuuuuuu.
Quando
perceberam a confusão, todas as letras caíram na gargalhada.
A letra Q também deu um sorrisinho bem amarelo e sem graça. A letra U completou
com tom tristonho:
– Puxa
vida, eu querendo abafar com minha cantoria e estou é assombrando?
– Nada
disso, minha amiga, sua voz é linda! Tão linda que eu até pensei que era de
outro mundo. Nessa hora, a gargalhada foi geral, e as duas amigas Q e U abraçaram-se. A letra Q pediu desculpas, explicando que era muito, muito medrosa. Então a letra U contou que ela estava perdendo grandes aventuras, que era delicioso
viajar pelo céu para ajudar as crianças a escrever, mas que ela estava tendo
uma ótima idéia. E foi assim que combinaram:
– Amiga Q, eu prometo que toda vez que você precisar sair para viajar para o
papel eu vou de mãos dadas com você. Assim você nunca vai estar sozinha. E
assim, toda vez que precisamos da letra Q para
escrever qualquer coisa sua amigona U vem
junto.
Você já
viu a letra U sozinha várias vezes porque ela não tem medo de
viajar só, mas, solidária como é, sempre encontra tempo para acompanhar sua
amiga Q , que nunca anda sozinha. Você já reparou nisso?
Pois agora ficou sabendo da história.”
* Stefânia Padilha é pedagoga e professora de Educação Infantil da rede
municipal de Belo Horizonte. Tem atuado ativamente nas lutas da categoria e
pela qualidade na Educação Infantil
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