A afetividade na relação pedagógica
Especialista em mudanças na educação
presencial e a distância
É muito difícil equilibrar controle e
liberdade, autoritarismo e afetividade. Em grupos grandes a tendência é a olhar
mais a norma do que as pessoas, a regra do que as circunstâncias. Os limites são
importantes, mas a relação pedagógica afetiva é fundamental. Aprendemos mais e
melhor quando o fazemos num clima de confiança, de incentivo; quando
estabelecemos relações cordiais com os alunos, quando nos mostramos pessoas
abertas, afetivas, carinhosas, tolerantes e flexíveis, dentro das regras
organizacionais.
Pela educação
podemos ajudar a desenvolver o potencial que cada pessoa tem, estimulando suas
possibilidades e diminuindo suas limitações. Um caminho importante é mostrar
atitudes de compreensão e estar atentos para superar a intolerância, a rigidez,
o pensamento único, a desvalorização dos menos inteligentes, dos fracos, dos
problemáticos ou “perdedores”.
Praticar a pedagogia da inclusão de
todos e de todas as formas. A inclusão não se faz somente com os deficientes,
ou com os marginalizados. Dentro da escola muitos alunos se sentem excluídos
pelos professores e colegas. São excluídos pelos professores, quando nunca
falam deles, quando não lhes dão valor, quando são ignorados sistematicamente.
São excluídos quando falam com e dos mesmos e descuidam os demais. São
excluídos quando exigem de pessoas com dificuldades intelectuais, emocionais e
de relacionamento, os mesmos resultados.
Há uma série de obstáculos para superar:
a formação intelectual que valoriza mais o conteúdo, o intelecto, a razão.
Professores e gestores frequentemente possuem uma formação emocional, afetiva
deficiente. Por isso, tendem a enxergar mais os erros que os acertos. Salários
baixos e falta de reconhecimento também dificultam o equilíbrio emocional, a
auto-valorização, a boa auto-estima.
Por isso, ao mesmo tempo que se
implantam políticas efetivas de valorização profissional, é importante
organizar atividades, cursos e programas com gestores e professores para que
todos desenvolvam a autoconfiança, a auto-estima. Gestores acolhedores
facilitam muito o clima emocional da escola. Profissionais valorizados se
sentem melhor e contribuem mais.
Para que os alunos tenham certeza do que
comunicamos, é extremamente importante que haja sintonia entre a comunicação verbal, a falada e a não verbal, a comunicação gestual, a
que passa pela inflexão sonora, pelo olhar, pelos gestos corporais de
aproximação ou afastamento. As pessoas que tiveram uma educação emocional mais
rígida, menos afetiva, costumam ter dificuldades também em expressar suas reais
intenções, em comunicar-se com clareza. Falam de forma ambígua, utilizam
recursos retóricos como a ironia, o duplo sentido, o que deixa confusos os
ouvintes, sem conseguir decifrar o alcance total das intenções do comunicador.
Os educadores que gerenciam bem suas
emoções transmitem equilíbrio, tranqüilidade e objetividade. Falam com tom
calmo, e quando discordam, o fazem sem agredir nem humilhar. Os alunos captam
claramente as mensagens e mesmo quando não concordam, manterão o vínculo
afetivo, o relacionamento e continuarão abertos para novas mensagens.
As pessoas equilibradas, abertas, nos
encantam. Antes de prestar atenção ao significado das palavras, prestamos
atenção aos sinais profundos que nos enviam, de que são pessoas compreensivas,
confiantes e abertas a novas experiências e ideias.
* Este texto faz parte do meu livro A educação que desejamos: Novos desafios
e como chegar lá. 4ª ed.
Papirus, 2009, p. 55-59 (com pequenas modificações).
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