quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Ampliaçao de repertório.

O Brincador

«Quando for grande, não quero ser médico, engenheiro ou professor.
Não quero trabalhar de manhã à noite, seja no que for.
Quero brincar de manhã à noite, seja no que for.
Quando for grande, quero ser um brincador.
Ficam, portanto, a saber: não vou para a escola aprender a ser um médico, um engenheiro ou um professor.
Tenho mais em que pensar e muito mais que fazer.
Tenho tanto que brincar, como brinca um brincador, muito mais o que sonhar, como sonha um sonhador, e também que imaginar, como imagina um imaginador...
A mãe diz que não pode ser, que não é profissão de gente crescida. E depois acrescenta, a suspirar: “é assim a vida”. Custa tanto a acreditar. Pessoas que são capazes, que um dia também foram raparigas e rapazes, mas já não podem brincar.
A vida é assim? Não para mim. Quando for grande, quero ser brincador. Brincar e crescer, crescer e brincar, até a morte vir bater à minha porta. Depois também, sardanisca verde que continua a rabiar mesmo depois de morta. Na minha sepultura, vão escrever: “Aqui jaz um brincador. Era um homem simples e dedicado, muito dado, que se levantava cedo todas as manhãs para ir brincar com as palavras.»
Álvaro Magalhães*

*Álvaro Magalhães  
No início dos anos 1980, Álvaro começou por publicar poesias e poemas. Em 1982, publicou o seu primeiro livro para crianças: Histórias com Muitas Letras. Desde então, construiu uma obra singular e diversificada, que conta actualmente com mais de três dezenas de títulos e integra contos, poesia, narrativas juvenis e textos dramáticos.

Algumas de suas obras:
O menino chamado Menino, Porto, Edições Asa, 1983;
O Reino Perdido, Porto, Edições Asa, 1986;
Os três presentes, Porto, Edições Asa, 1987;
O limpa-palavras e outros poemas, Porto, Edições Asa, 2000;
O circo das palavras voadoras, Lisboa, Horizonte,1982.

Nenhum comentário: