Um grande desafio de nossas crianças na Educação Infantil está ligado à leitura e a escrita. Pensar e representar aquilo que pensa e fala através de símbolos próprios levam as crianças à diferentes pesquisas gráficas. Nestas descobertas o desenho já não mais satisfaz o desejo de representar, é preciso algo mais. Mas como fazer? Como utilizar o símbolo certo? Como garantir o entendimento daquilo que se quer dizer? Quais os símbolos utilizar?
Muitos autores e linhas teóricas abordam esta fase e nos fazem refletir sobre o importante papel do professor neste processo. Conheça algumas ideias da Pedagogia Freinet.

Primeiro as crianças expressam livremente seus pensamentos pela fala, depois pelos desenhos, em seguida pela escrita, pelo reconhecimento de palavras e frases e finalmente pelo reconhecimento e compreensão, ou seja, pela leitura propriamente dita. Não se exploram grafemas e fonemas logo de início, mas quando a criança demonstra seu interesse natural por eles.
Para desenvolver a escrita e a leitura, a criança passa por algumas etapas: o desenho livre para que ela perceba que só ele não basta para se expressar; a incorporação ao desenho de tentativas no uso de letras; o uso de letras estabelecendo relação com os sons; o domínio e o uso da escrita correta de algumas palavras, até descobrir que já sabe escrever.
Segundo Freinet, o desenho é uma das formas de expressão da criança, uma espécie de vocabulário, e também uma atividade experimental por excelência. O grafismo inicial vai se organizando e ganhando significado. A criança sente, então, necessidade de explicar melhor, passando a se interessar por outros sinais, imitando letras e palavras. Todo um caminho é percorrido até que ela compreenda como se constrói e como funciona a escrita e a leitura.
Freinet propõe técnicas que permitem essa construção de forma ativa e dinâmica: textos livres, Livro da Vida da classe, jornal, fichário, aula-passeio, imprensa e computador, biblioteca de sala; leitura de histórias, brincando com as palavras.
As estratégias aqui descritas e exemplificadas possibilitam às crianças situações variadas de aprendizagem em situações reais de comunicação, permitindo-lhes o crescimento pessoal e social.
As Etapas e os Exemplos
Deixar a criança falar, desenhar são etapas para o desenvolvimento da leitura e da escrita, pois após organizar seu pensamento e automatizar seus traços, logo perceberá que só o desenho não basta, procurando se expressar também através da escrita.
- A criança começa a produzir seu grafismo aleatoriamente. Ao ser questionada dá uma explicação para o seu desenho. Se algum grafismo tiver semelhança com uma forma que a criança verbaliza, essa forma passará a ser repetida.
- Percebemos que a criança vai incorporando ao seu desenho uma tentativa de escrita, imitando a postura do professor, no sentido de fazer a história do desenho. Como coloca Freinet, é comum neste momento a criança despertar para o reconhecimento de letras, de nomes conhecidos (o seu, o da mãe, o do pai, o do irmão, o do amigo) fazendo uma leitura global e bastante afetiva.
- A criança domina a escrita correta de algumas palavras e começa a utilizá-las em suas escritas.
- A criança copia muitas palavras com segurança, rapidez e perfeição. Ela utiliza-se do fichário que permite uma memorização das palavras que contém um valor afetivo, pois funciona como um referencial na hora de escrevê-las. Esse fichário é construído com caixinha de gelatina, pelas crianças, com a ajuda da professora.
- A criança continuará suas tentativas, chegando à perfeita tradução escrita da linguagem oral da referida palavra. A escrita vai se aperfeiçoando cada vez mais, principalmente se o meio lhe oferecer estímulos e a “ajuda” necessária. A criança descobre que já sabe escrever, comunicar-se, expressar seu pensamento. Seus textos já podem ser lidos e compreendidos sem dificuldade.
Os exemplos mostram que a aquisição da leitura e escrita dá-se de forma global, ou seja, a criança parte das palavras que conhece e aos poucos constrói seu próprio caminho para a apropriação da linguagem escrita.
A passagem do desenho à escrita se dá após uma série de experimentos intermediários. A criança vai tentando e tentando, sem que o ato tenha qualquer intenção; o grafismo sem forma organiza-se. Aos poucos vai surgindo uma crescente precisão em seus gestos e ela percebe que o que fez se parece com algo (determinado objeto). Automaticamente repete várias vezes o mesmo desenho (tentativa experimental) aperfeiçoando cada vez mais seu grafismo e sua lógica de explicação.
“Não dê nenhum conselho, não julgue... Contente-se em se interessar pela obra realizada, que sempre tem grande parte de originalidade, utilize-a para fazer a criança falar, para estimulá-la a se exteriorizar e a se socializar”. (Freinet)
Este artigo apoiou-se em experiências realizadas na Escola Oca dos Curumins, São Carlos, SP, e em práticas e trabalhos de colegas, empenhados na tarefa de educar com base nos princípios e técnicas da Pedagogia Proposta por Freinet, no sentido da construção de uma escola democrática para uma sociedade verdadeiramente democrática.
Maria Fátima Luchesi Martins e Rita de Cássia Rosa Miassi
*FREINET
Educador francês nascido em 1886, revoluvionou e pedagogia e fez chegar ao mundo ideias de maior valor. Jornal escolar, trabalho em grupo, aulas-passeio, práticas atuais ...
*Contribuição: Maysa Borges de Castro
*Contribuição: Maysa Borges de Castro
2 comentários:
Muito interessante a tua abordagem...Parabéns!
Muito interessante a tua abordagem...Parabéns!
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